Como em toda a indústria de entretenimento, a NBA não difere em seus principais objetivos de outras referencias americanas. Entreter, tendo as melhores performances possíveis, e fechando a semana no verde é o plano de jogo de Adam Silver e seus patrões, os donos de franquia da liga. Para isso, os clientes – eu, você e cada fã possível – devem estar satisfeitos com o que assistem, ou esperançosos que logo poderão se gabar no trabalho de seu time. E é função da NBA garantir que esse balanço entre sucesso e desenvolvimento esteja presente de forma saudável.
Para mitigar uma configuração igual à da futebol mundial, onde os times mais ricos tem muito mais recursos para bancar estrelas e salarios inimaginaveis, enquanto a maior parte da competição deve cultivar sua própria subsistência, medidas como Salary Cap e Revenue Sharing estão presentes. A primeira é um teto de salários, igual a todas as equipes, e a segunda, uma divisão dos lucros totais, proporcional ao tamanho do mercado em que uma franquia se encontra.
Como a NBA atua no mercado de entretenimento, nada mais justo que suas franquias atuarem como, bem, franquias. São empresas, que devem ser geridas com competência, do contrário, serão ultrapassadas pela concorrência e perderão clientes (os fãs), e junto com eles, lucro, num ciclo vicioso. Assim como eu e você, jogadores também têm preferências de onde trabalhar. Alguns preferem cidades grandes, movimentadas e cheias de oportunidades, enquanto outros preferem um pouco mais de privacidade e liberdade.
GRANDES X PEQUENOS
Para os grandes mercados, o passado tem relevância grande. As histórias de Knicks, Lakers e Celtics constantemente os colocam nos noticiários, e se tornam armas para atrair jogadores. Pequenos mercados não podem se apoiar nessa ferramenta. Raramente você verá um jogador de nível All-NBA tentando ir para San Antonio, embora os Spurs não fiquem de fora dos Playoffs há mais de 2 décadas. Pequenos mercados precisam operar de maneira diferente dos grandes. E a NBA não liga muito de como isso geralmente termina, ela até gosta na verdade. A mídia que o período de Free Agency ou Trade Deadline gera para a liga é maior que em qualquer outro esporte americano, e isso movimenta milhões, além de cativar muitos tipos de público.
Equipes como Pelicans, Grizzlies ou Pacers precisam encontrar jovens de grande potencial, investir no seu desenvolvimento, e ser eficientes nos gastos com elenco de suporte. Não há tanto dinheiro para um contrato longo e caro dado a um jogador mediano, a Luxury Tax pesa muito para pequenos mercados. Mesmo com mecanismos para praticamente obrigar um jovem draftado a permanecer em sua equipe, os casos são inúmeros onde essas jovens estrelas terminam em um mercado de grande porte. O que há de errado? É impossível ter sucesso sustentável em pequenos centros? A resposta é não.
Vamos dar uma olhada nos 10 menores mercados da NBA, segundo o stationindex.com :
- New Orleans
- Memphis
- Oklahoma City
- Milwaukee
- San Antonio
- Salt Lake City
- Indiana
- Charlotte
- Portland
- Sacramento
Quantas dessas equipes tem sucesso contínuo? 2, talvez 3?
A receita para o sucesso dessas poucas? Cultura e gestão.
CULTURA E GESTÃO
Diferente de um gigante como o Knicks, nenhuma dessas equipes tem milhões de moradores dispostos a gastar muito dinheiro para se associarem à imagem da franquia, nem a história de um Lakers ou Celtics para gerar tamanho interesse. Pequenos mercados precisam ter uma identidade própria, altamente relacionável à proposta que os jogadores vão abraçar em quadra. Quando se fala de Grit N Grind, automaticamente pensamos em Grizzlies. Movimentação de bola? Spurs. Torcedores e jogadores se conectam através de uma cultura sólida.
Alguém se recorda de ler ou ouvir ” O Spurs está tentado trocar um jogador para não pagar a Luxury Tax“? Isso é boa gestão. Procurar jogadores que passam desapercebidos à maioria, e entregar contratos eficientes a eles. Danny Green estava na G-League quando San Antonio o trouxe para o elenco. Dejounte Murray foi a a penúltima escolha do primeiro round de 2016, Brandon Clarke foi escolhido pelo Grizzlies fora da loteria (21ª escolha), Paul George chegou em Indiana na 10ª escolha, e Giannis foi deixado de lado por 14 equipes antes de pousar em Milwaukee. Desenvolver talentos únicos, e rodeá-los com veteranos de qualidade são boa gestão. Não seguir essa receita é um luxo que grandes mercados podem se dar. Para os menores, é o beijo da morte.
O Pelicans deu grandes e longos contratos a Eric Gordon, Tyreke Evans, Ryan Anderson, Omer Asik, Alexis Ajinça, Solomon Hill, E’Twaun Moore, trocou inúmeras escolhas de draft por role players, e viu sua grande estrela, Anthony Davis manter a franquia refém exigindo novos ares (de Los Angles para ser exato). A franquia não possuía uma cultura, tampouco uma gestão sólida. Mesmo roteiro da estadia de Chris Paul na Big Easy, mesmo resultado.
Os desafios e a margem de erro são inversamente proporcionais ao tamanho do mercado de uma franquia, e isso pede grande competência. Spurs, Jazz, Thunder, Blazers, Pacers já mostraram que é sim possível brigar e até ganhar o título com gestões competentes e uma cultura sólida. Knicks nos lembram há 20 anos que história e a maior cidade do planeta não são garantia de sucesso. Cabe aos fãs fazerem suas vozes serem ouvidas, e demandar pessoas sérias e competentes no comando de seus times. Nós somos os clientes. É possivel fazer. É mais difícil sim, mas é 10 vezes mias gostoso quando dá certo. E vai dar.