A melhor Cinderela Season que não aconteceu – S02E01

 

Esse texto, ao contrário do jeito que eu falo no Rebatida e em outros artigos, não vai estar lotado de estatísticas inúteis, números fracionados sem contexto e frases de lamentação, não. Eu quero ser como um guia que te conduz por uma exibição de arte contemporânea – vai te explicar o que tem de interessante por trás de coisas que não são bonitas. Eu quero conversar, falar com você virtualmente, tirar de dentro de mim o que foi essa temporada e te passar uma experiência que será única na sua vida, a experiência Cincinnati Reds, temporada 2022.

 

 Inacabáveis perguntas sem respostas

 

Analisar o Cincinnati Reds é igual procurar o sentido da vida, “quero dizer, para onde você quer ir?”. Para onde estamos indo? Estamos condenados a viver sempre esperando o futuro, mas com medo do que vai acontecer amanhã? O Reds lembra a fragilidade da vida, o quanto tudo é igual a uma neblina, agora existe mas logo desaparece. O Reds faz a pessoa ser mais simples, procurar a felicidade nas pequenas coisas, valorizar as pequenas vitórias. Ele te lembra o lugar insignificante que tudo e todos ocupam na história do mundo, e não é que eu esteja tentando te aborrecer mas simplesmente existe coisas que são maiores do que nós, mais importantes do que nós.

Eu quero contar uma história, vou contar pra vocês o melhor momento que eu tive na temporada: Era lá por julho. O Reds estava 33-55 naquela altura do campeonato, enfrentando o todo poderoso New York Yankees, detentor do fabuloso recorde de 62-27 no Yankee Stadium lotado e embalado pela sequência incrível que o time tinha. O clima era totalmente hostil quando Luis Castillo subiu no montinho, a derrota era praticamente certa e anunciada. Castillo escolheu justamente esse dia para jogar como ainda não havia jogado na temporada, porque voltava de lesão, e foi uma aula de arremesso. Nestor Cortes, arremessador dos Yankees, também não ficou pra trás e dominou o lineup do Reds. O jogo foi até a nona entrada empatado em 3×3.

O jogo ficou nisso, um duelo de arremessadores da mais altíssima qualidade imaginável. Depois de segurar o topo da ordem do Yankees na baixa da nona entrada, as entradas extras começaram. Como toda entrada extra, o coração estava para sair pela boca, mas também foi ali a hora que as estrelas brilharam: Votto dupla e rbi, Stephenson dupla e rbi, Solano dupla e rbi. De repente, como num estalar de dedos estávamos na frente no placar por 3 corridas, silêncio fúnebre, o gigante Yankees estava atordoado, confuso, sangrando… e era a hora de girar a faca. Dauri Moreta, nosso arremessador reserva nunca tinha fechado um jogo na vida, e sua estreia é justamente na maior prova de fogo, tem como ser mais romântico que isso? Só pra dar emoção, Matt Carpenter consegue um 2run home run com nenhum eliminado, a derrota parecia inevitável, mas às vezes é permitido ser feliz. Trevino groundout, Gallo walk e Falefa single colocam RISP e pressão, mas LeMahieu rebate mascado, doubleplay e vitória. O gigante Yankees caia diante do menino Reds, uma pedrada bem no meio da testa, pow! Estava morto e calado o Yankee Stadium, a vitória pertencia aos vermelhos!

Para o Yankees, essa derrota foi só um acidente de percurso, mas para o Reds, isso significou muito, quase um título, ora, jogamos contra o melhor time do mundo e chutamos o traseiro deles! Isso é o beisebol, isso é a vida. O que seria do verde se não fosse o amarelo? O que seria da luz se não existisse a escuridão? Só sabemos quão doce é a vitória quando experimentamos o amargo da derrota. E como foi doce essa vitória.

Esse não foi só o melhor momento da temporada, esse foi o único momento feliz que ela me deu.

 

 

 Desmanche

 

Depois da trade deadline, tudo que tinha algum valor de troca saiu do time, vieram prospectos que vão ser a base da reconstrução. Esse período foi bastante divertido de assistir, de ver as futuras estrelas mostrando serviço, sendo experimentados sem pressão nas grandes ligas.

O time continuou seguindo o seu curso, mas jogando de um jeito muito mais cativante, muito mais moleque, muito mais beisebolístico. A temporada acabou de uma maneira triste, 62 vitórias e 100 derrotas, a segunda vez em quase 150 anos em que isso acontece. Mas, sendo sincero, não ligo muito pra isso, depois da trade deadline eu comecei a me divertir assistindo os jogos, não tínhamos nada, por isso não tínhamos nada a perder. Irônico. Não significa que a derrota dói menos, não, ainda dói, mas agora eu entendo que a vida, assim como o beisebol, não significa sucesso o número da coluna de vitórias e derrotas, inevitavelmente você vai perder em algum momento, mas isso não significa que tudo foi um fracasso, amanhã tem jogo de novo, amanhã nós vamos ganhar, amanhã vai ser um dia melhor…

 

 Envolto em vermelho

 

Agora o que nos resta é seguir seguindo em frente. A temporada não foi boa, foi horrível, me deixou mal, me fez mal, mas eu não mudaria nada nela. Até porque, quando você decide torcer por um time do interior dos Estados Unidos, que mais precisamente fica no sudoeste de Ohio/Nordeste de Kentucky, cujo dono é um sovina, não ganha a divisão a mais de 10 anos e a última série de playoffs que venceu foi antes de você nascer, não dá pra esperar muita coisa.

Vencer é legal, é divertido, mas… quando as vitórias não são muitas, há um ar de romantismo maior em tudo. Prestar atenção no infielder de 20 anos que está jogando bem na AA, ou no arremessador selecionado na 20ª rodada do draft de 2020 que não cedeu nenhum home run nos 9 primeiros jogos, há um apego maior, você se sente parte desse todo. Procurar motivos para sorrir, tudo já é tão difícil, esse é o lado bom do time ruim.

6 meses de momentos bons e momentos não tão bons, cada um teve seu charme. Deu pra tirar muitas lições dessa temporada, que tanto vencer quanto perder não significam muita coisa, no final de tudo, a única coisa que ficará é que o Brewers não têm anel. Eu costumo dizer que descobrimos que gostamos de um time quando ele vence, mas que o amamos quando ele perde. Infelizmente, eu amo demais o Reds.

Chegamos ao final, espero que tenham gostado (e aguentado ler essa baboseira toda até o final), eu demorei 10 horas pra escrever tudo isso, e 7 meses e meio para viver tudo isso. Obrigad por ter lido até aqui. #ATOBTTR

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