(Este texto reflete única e exclusivamente a opinião de seu autor)
Antes de começar é importante salientar que esse texto foi escrito por um torcedor do Indianapolis Colts desde 2012 que pegou alguns bons anos (2014 e 2018) e alguns péssimos anos acompanhando o time (2015, 2016, 2017). Por que falo isso? Porque a partir de 2018, instaurou-se uma cultura diferente na franquia de Indianapolis vinda com Chris Ballard (ainda em 2017) como GM e Frank Reich como HC (a partir de 2018).
Primeiramente, é impossível não falar dos tantos acertos que Ballard teve ao montar o time, principalmente via escolhas de Draft. Não é normal que uma franquia saia com três ou quatro jogadores bons para já compor elenco e serem titulares. O trabalho de scout feito por ele e seus assistentes em relação a talentos no Draft tem sido excelente e acima da média da liga, destaco aqui Ed Dodds (assistente do GM) e Morocco Brown (Diretor de scouting do College). Para exemplificar os Colts tiraram de apenas um Draft:
- 2018: G Quenton Nelson (3x 1st All Pro), LB Darius Leonard (3x 1st All Pro) e RT Braden Smith (Pro Bowler);
- 2019: CB Rock Ya-Sin, SS Khari Willis, LB Bobby Okereke e WR Parris Campbell. Todos titulares do time;
- 2020: WR Michael Pittman Jr, RB Jonathan Taylor (1x 1st All Pro) e FS Julian Blackmon. Todos titulares e com excelentes números, em especial os dois jogadores do ataque.
Falando agora a respeito da cultura do time, Ballard busca sempre jogadores que são bons de grupo e evita sempre aqueles que tenham problemas extra campo. No entanto, a situação pandêmica que estamos vivendo evidenciou que o elenco dos Colts não é assim tão empático como Ballard achou que fosse, visto que foi um dos times com menores taxas de vacinação da liga, dentre eles suas principais lideranças dentro e fora dos gramados: Nelson, Leonard e Wentz. Antes mesmo de começar a temporada, com a situação dos antivacinas sendo cada vez mais exposta, não ouvimos nenhum tipo de declaração dos dois mandachuvas além de uma entrevista de Reich falando que deveríamos respeitar as decisões dos atletas.
Montagem de elenco
Como já dito anteriormente Ballard fez um ótimo trabalho recrutando novos jogadores, mas é inconcebível que ele não tenha a mesma disposição para encontrar jogadores via free agent.
Em relação à busca do QB para os Colts após a aposentadoria precoce de Andrew Luck, Ballard nunca teve um plano para a posição. Usou Brissett em 2019, compreensível pela data da aposentadoria de Luck, depois buscou em Philip Rivers mais um ano para planejar melhor as coisas visto que ele estava em fim de carreira com 39 anos.Para 2021 foi em busca de Carson Wentz (pedido de Frank Reich), mas sem a certeza de que ele era o jogador correto para assumir a posição. Na época da troca dos Colts e Eagles haviam muitos boatos na mídia que Indianapolis consultou outros QBs na liga para uma troca, tal como Matthew Stafford e Sam Darnold.
Ao que tudo indica, os termos da troca foram feitos por Ballard, endossados por Frank Reich e aceitos pelo Philadelphia Eagles (claro, podendo haver uma variação de valores para cima ou para baixo como é costume de uma negociação não tão simples como essa). Como sei disso? A ação de Ballard na FA demonstra que ele não está disposto a pagar o valor de mercado de um jogador e sim o valor o qual ele avalia justo. Como isso funciona na prática: os Colts tem ficado para trás em todas as contratações boas nas Free Agencies desde que Ballard assumiu.
Isso quer dizer que eu quero que ele saia rasgando dinheiro como Ryan Grigson fazia? Obviamente não, mas é importante que a FA não seja deixada de lado para a montagem de elenco. Exemplo disso são os times os quais estão nos playoffs esse ano. Bucs, Titans, Patriots, Rams, Eagles e Chiefs são franquias que viram os buracos que seus elencos tinham e não se importaram em investir nisso. Os principais buracos dos Colts neste ano eram:
- LT: com a aposentadoria de Anthony Castonzo;
- DT/DE: com a não renovação de Denico Autry (que assinou com o Titans) e que a unidade já ano passado precisava de ajuda;
- WR: com a clara decadência na carreira de T.Y Hilton.
As contratações que vieram para essas posições foram:
- LT: Julie’n Davenport (PS Dolphins), Sam Tevi (PS Chargers) e Eric Fisher (Ex-Chiefs e se recuperando de lesão no Tendão de Aquiles);
- DE: O calouro Kwity Paye e Isaac Rochell (PS Chargers);
- WR: ninguém
Na linha ofensiva, Davenport assumiu os snaps nos primeiros quatro jogos (record 1-3), cedeu quatro sacks e uma das maiores taxas de pressão da liga. Além disso quem assistiu os Colts esse ano lembra que nas primeiras cinco semanas toda a linha ofensiva jogou terrivelmente mal. Depois isso, Eric Fisher assumiu e cedeu nada menos que sete sacks e também uma boa porcentagem de pressão.
Na posição de DE e EDGE rusher, os Colts mais uma vez deixaram a desejar. Apesar de Paye ter feito uma boa temporada sendo calouro, a unidade não conseguiu entregar o que se esperava, com apenas 33 sacks no ano (26º na liga). A nível de comparação do TOP 15 nessa estatística, nove estão nos playoffs.
A posição de WR também teve um forte impacto negativo no time. Na entrevista final da temporada Reich falou que o ataque aéreo por boa parte da temporada não foi nem perto de eficiente. Michael Pittman Jr. conseguiu 1086 jardas recebidas e todos os outros WR juntos somaram pouco mais de 1000.
Resumindo: Todos sabem que um time deve ter sua base feita via Draft, mas na forma como a NFL está evoluindo, times que não são pontuais ou que não usam a FA para elevar o nível do time vão ficando para trás. Os times que foram aos playoffs estão aí para mostrar isso.
Além de falhar com sua filosofia tendo vários anti vacinas no time e no suporte de apoio ao elenco que montou, Ballard parece estar conformado com o nível de futebol que os Colts tem apresentado. Isso porque nas cinco temporadas que ele está à frente do cargo o time mantém basicamente o mesmo nível de atuação e apresentação em campo e em nomes. Alguém pode dizer que o time de 2019 era muito melhor que o de 2021? O de 2021 era muito melhor que o de 2018? Ou ao contrário?
São os mesmos problemas, basicamente as mesmas peças e o mesmo desempenho. O GM parece ser incapaz de fazer o necessário para vencer. O conformismo com o “bom” é estarrecedor. Alguém pode falar que não estou colocando no texto os acertos de Ballard em contratações e eu pergunto se elas realmente fizeram a diferença para o nível de jogo que o Colts apresentou nos últimos cinco anos. A melhor contratação dos últimos dois anos foi Xavier Rhodes que jogou bem ano passado e esse ano começou a jogar bem na semana 12. Não adiciono aqui DeForest Buckner pois ele valeu uma 1st round pick, via troca e não FA.
Nomes como Sheldon Day, Sean Davis, Joey Hunt, Andrew Sandejo (que até jogou bem as últimas semanas da temporada), Chris Reed (bom backup), Julie’n Davenport, Isaac Rochell, Sam Tevi e outros foram as principais assinaturas na FA dos últimos anos do time. Com isso, o Colts se torna incapaz de brigar por qualquer coisa e vai continuar sendo um time conformado em ser apenas bom.
Frank Reich
Até aqui comandou quatro QBs diferentes no ataque de Indianapolis. O mais recente, sendo pedido por ele próprio, Carson Wentz, não teve sua permanência bancada na última entrevista da temporada do HC. Coisa que não aconteceu com Jacoby Brissett e muito menos com Philip Rivers. Ao ser questionado na época, Reich disse que se pudesse escolher teria Rivers novamente.
De modo geral, comandando o ataque, o time tem mostrado bons números, mesmo com a falta de WR e TE recebendo passes. Jogo terrestre impactante e OL estabelecidas nessa última temporada. No entanto um HC não se restringe apenas à área que ele tem afinidade. Há outros deveres a serem cumpridos e um deles é deixar o time pronto para o início da temporada, coisa que não vimos nos quatro anos com ele no comando. Deixo aqui como um dos principais responsáveis pela não ida aos playoffs nessa temporada o tempo que os Colts demoram para reagir. Em 2018 os Colts começaram 1-5 e terminaram 10-6. Em 2020 começaram perdendo para os Jaguars, no que foi a única vitória de Jacksonville (quase acarretando na não ida aos playoffs) e terminaram 11-5. E nesta temporada, começaram 1-4 e terminaram 9-8, sem classificação aos playoffs.
É válido destacar que o desenho das temporadas à frente dos Colts tem sempre sido muito parecidas. Ano passado Reich sofreu com o playcalling do ataque e só engrenou depois da Semana 5. Esse ano a partir da Semana 3 melhorou, mas outros problemas principalmente com a OL desajustada (mantendo praticamente as mesmas peças do ano anterior), falta de entrosamento da defesa e escolha por Carson Wentz. Nele o HC colocou suas fichas no começo da temporada e vulnerabilizou toda a franquia a mercê do QB, visto que os Colts absorveram o contrato de Wentz e ainda liberou duas escolhas de Draft (1ª de 2022 e 3ª de 2021). Para que seja possível cortar Wentz, os Colts terão que lidar com 15M de Dead Money caso seja cortado até 19/03. Todas essas decisões culminaram em um desperdício de talento de vários jogadores do elenco. Indo para o terceiro ano do contrato que Buckner recebeu, perdendo os anos de calouros de Leonard, Nelson, Smith, JT, MPJ e mais.
Os Colts parecem perdidos em meio ao oceano, longe da Terra Prometida e sem um capitão para liderar, se contentando em não estarem afundando. Ressalto que Indianapolis faz parte de uma das divisões mais fracas da NFL e, em todos os anos de Reich e Ballard, ainda não conseguiu erguer o caneco, sendo coadjuvante dos rivais.
Todos os fatos apresentados aqui levam ao conformismo com o “bom”. Ballard não parece estar disposto a fazer nada de diferente que fez até agora para chegar a um lugar mais alto. Reich, em quatro anos, segue cometendo os mesmo erros e acertos. E as outras unidades do time, tal como a defesa, seguem sendo inconstantes e desfalcadas de jogadores que podem fazer a diferença no elenco.