Dando prosseguimento a série “Colts Imortais” sobre os representantes dos Colts no Hall da Fama da NFL e do Ring of Honor voltaremos à NFL dos anos 1950. Hoje, falaremos sobre Joe Perry, ou apenas “the jet”, fullback do Baltimore Colts e do San Francisco 49ers e primeiro afro-americano eleito MVP da Liga.
A VIDA ANTES DO FUTEBOL
Nascido em Stephens, em Arkansas, ainda jovem Fletcher Joe Perry se mudou com sua família para Los Angeles. Assim como outros jovens negros da época, Joe se apaixonou por UCLA, o berço de atletas como Jackie Robinson, Woody Strode e Kenny Washington. Acabou jogando pela Compton Junior College, onde participou do time de futebol americano após ser atleta em quatro esportes diferentes no high school. Por Compton teve 22 touchdowns na temporada de 1944, chamando a atenção de todos, inclusive do programa de futebol de UCLA. Entretanto, após ser rejeitado quanto fez a sua primeira tentativa de jogar futebol pela universidade, Joe preferiu declinar o convite que chegou posteriormente.
Sua carreira universitária durou apenas uma temporada antes de se alistar para a Marinha durante a Segunda Guerra Mundial. Assim como Arthur Donovan, outra estrela dos Colts e da história da NFL, Joe teve a marca da Guerra em sua vida. Enquanto servia na Alameda Naval Air Station, na Bay Area, Perry não deixou de praticar futebol americano. Foi exatamente nessa época que o Los Angeles Rams e o San Francisco 49ers tiveram conhecimento do talentoso jogador. Joe declinou a oferta dos Rams e escolheu os 49ers por confiança no fundador e dono da franquia, Tony Morabito. Assim como seus ídolos universitários, Joe veio a ser um dos atletas afro-americanos notáveis da época, ajudando na quebra da barreira racial nos esportes.
CHEGANDO AO FUTEBOL PROFISSIONAL
Após ser recrutado como agente livre pelos 49ers, Joe se tornou o primeiro afro-americano na história do time. Apesar de ser respeitado por muitos de seus colegas de time, Joe também encontrou pedras no seu caminho como jogador e também fora de campo. À época, San Francisco participava da All-America Football Conference, uma espécie de liga rival da NFL. Muitos afro-americanos eram jogadores dos times da conferência, como por exemplo Marion Motley e Bill Willis. Joe contou em entrevistas que por inúmeras vezes era ofendido dentro e fora de campo, ameaçado e além de sofrer com socos e cotoveladas durante os jogos. Jogando um esporte de contato contínuo com o oponente, Perry precisava estar atento a todo momento para evitar lesões de maior proporção.
Apesar da enorme discriminação Joe era muito apreciado por seu talento, especialmente por seus companheiros de time. Seu famoso apelido, “the jet” (“o jato”), foi dado em seus primeiros treinos com os 49ers pelo então quarterback do time, Frankie Albert. “Perry é como um daqueles grandes jatos”, a definição dada por Albert sobre Joe. Os companheiros de equipe destacavam a sua velocidade, o que não era comum para os fullbacks da época, muito pelo contrário. Apesar de um tamanho incomum para a posição, com 1,80 metros e aproximadamente 94kg, Perry tinha o tronco e pernas fortes e era capaz de bloquear com muita potência. O offensive tackle Bob St. Clair dos 49ers, também no Hall da Fama, destacou uma vez que Joe seria capaz de derrubar qualquer um à sua frente sem se importar quem era.
O início da carreira
Seu início de carreira nos 49ers foi muito promissor, liderando a liga em touchdowns corridos em seus dois primeiros anos com o time. Em 1948 teve 10 touchdowns e em 1949 teve oito, correndo para 562 e 783 jardas (maior marca na Liga naquele ano), respectivamente. No seu ano de calouro também anotou o único touchdown de retorno de chute na carreira, para 87 jardas. Em 1949 foi selecionado para o AAFC All-Star Game contra os campeões Cleveland Browns. No ano seguinte formou uma parceria de peso ao lado de Hugh McElhenny, que foi draftado para jogar como halfback.
Em 1952 foi selecionado para o primeiro de três Pro Bowls consecutivos, tendo em 1953 e 1954 os seus anos mais prolíficos da carreira. Foi selecionado duas vezes seguidas para o First-Team All-Pro pela Associated Press, United Press e New York Daily News. Nestas duas temporadas alcançou um marco nunca antes estabelecido na liga, de duas temporadas consecutivas com mais de 1000 jardas corridas. Entre 1954 e 1956 foi um dos jogadores que formavam o “Million Dollar Backfield”, junto a Y.A. Tittle (QB), John Henry Johnson (HB) e Hugh McElhenny (HB). Em 1954 também foi eleito NFL MVP/Pro Player of The Year, da United Press sendo o primeiro afro-americano a receber o prêmio.
Depois das temporadas seguidas com mais de 1000 jardas corridas, Joe ainda ganhou diversas honrarias. Além de receber inúmeros presentes do time, como um carro, teve um dia dedicado a seu nome, o “Joe Perry Day”. Naturalmente o jogador se sentia muito importante para o time, tendo declarado que se sentia como “um filho favorito” do time e seus donos. Entretanto, ao longo dos anos acabou perdendo um pouco de espaço nos 49ers, o que fez com que fosse trocado para o Baltimore Colts.
AS TEMPORADAS COM OS COLTS
Com a aposentadoria de Alan Ameche, um dos jogadores-chave para os títulos da NFL dos Colts, o HC Weeb Ewbank acreditava que Perry fosse o jogador perfeito para o backfield do seu time. Em seu primeiro ano pelos Colts, 1961, além de liderar o time em jardas corridas ainda estabeleceu sua maior marca em jardas recebidas em uma única temporada (322). O lendário QB Johnny Unitas destacava a qualidade de seu companheiro de equipe: “Joe era o tipo de cara com quem você gostaria de jogar junto por toda sua carreira”. Correspondendo à sua produção no jogo aéreo, Unitas ainda complementou: “ele já estava um pouco mais velho quando chegou, mas se saiu muito bem conosco. Ele era incrível em screen passes. Lutava por cada jarda.”
Infelizmente uma lesão num ligamento fez com que Joe não pudesse participar de vários jogos na temporada de 1962, fazendo com que sua produção não atingisse as expectativas. A temporada em particular não foi nada boa pro backfield do time da Baltimore, com Lenny Moore também sofrendo com lesões e perdendo jogos. Pelos Colts somou 1034 jardas corridas e três touchdowns, 516 jardas recebidas e um touchdown.
APOSENTADORIA E LEGADO
Após uma segunda temporada frustrada nos Colts, Perry foi trocado de volta para os 49ers para o que viria a ser a sua última carreira na NFL. Entretanto, devido a idade e às lesões foi pouco usado. No ano de 1958 estabeleceu o recorde de jardas corridas na NFL, que mais tarde foi batido por Jim Brown em 1963. Em toda a sua carreira teve 9723 jardas (contando o tempo nos 49ers na AAFC e na NFL – 7344 apenas nas temporadas de NFL), com uma média de cinco jardas por carregada. Em 2011, outro running back importantíssimo na história dos 49ers e dos Colts, Frank Gore, ultrapassou a marca de jardas corridas por Perry por San Francisco. Perry ainda detém o recorde de touchdowns corridos (68) pela franquia da Califórnia.
Em 1969 foi eleito para o Pro Football Hall of Fame, tendo contribuído para o futebol também como um olheiro pelos 49ers. Foi considerado um dos atletas afro-americanos astros da década de 1950, com contribuição para a popularização dos esportes e igualdade racial. Faleceu em 2011 aos 84 anos devido às complicações de uma demência com a qual lidava há mais de 10 anos. De acordo com a própria família do ex-jogador, os médicos acreditavam que a doença foi causada pelas inúmeras concussões que sofreu nos anos como atleta. Como contribuição para estudos científicos que buscam o conhecimento aprofundado de doenças cerebrais causadas por concussões, Perry teve o cérebro doado à Boston University para pesquisa.
Em breve teremos mais textos de jogadores imortais dos Colts. Fiquem ligados!
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