Anatomia do Caos, cap3: Jimmy Haslam

Qualquer time com gestão séria, coerente e justa demitiria o head coach em caso de um histórico nada honroso, de apenas uma vitória e vinte e oito derrotas em dois anos, pior índice desde a marca de dois triunfos em vinte e oito jogos do Tampa Bay Buccaneers entre 1976 e 1977, os dois primeiros da franquia na liga.

Porém, quando se trata de Cleveland Browns, a regra é uma só: não existem regras! Por isso mesmo, ao invés de Hue Jackson, técnico, coordenador ofensivo e forjador de desculpas nas horas vagas, ser o indicado para ser ceifado, Jimmy Haslam preferiu mandar para a rua o vice presidente executivo de futebol, Sashi Brown, que, com Paul DePodesta, arquitetou um possível Moneyball na NFL.

A justificativa dada por Haslam é a de que “os resultados não agradavam e que era necessária uma mudança firme rumo ao sucesso desejado”. No lugar de Brown, foi contratado John Dorsey, ex-general manager do Kansas City Chiefs, que ajudou a montar o time que alcançou os playoffs pela terceira temporada consecutiva.  Para entender melhor a situação toda, vamos analisar os três lados dessa história, tanto de Hue Jackson, quanto de Sashi Brown e Jimmy Haslam.

Jimmy Haslam

James Arthur Haslam III, responsável maior por fazer afundar mais rápido um barco furado desde 1999. Ele, que possuía uma porcentagem de ações do rival Pittsburgh Steelers, foi forçado a se desfazer das mesmas ao comprar a franquia dos Browns por 1 bilhão de dólares em 2012, em outubro daquele ano.

Como ele adquiriu a franquia com a temporada em andamento, assumiu um papel de observação geral, para poder analisar quem deveria estar presente na temporada 2013, na qual poderia acompanhar o time desde o início da offseason. As mudanças vieram logo em dezembro de 2012, com a demissão do GM Tom Heckert e do HC Pat Shurmur. No meio de janeiro seguinte, Rob Chudzinski, ex-coordenador ofensivo do Carolina Panthers assumiu o lugar de Shurmur, enquanto Heckert foi substituído por Mike Lombardi.

A temporada veio, porém os resultados positivos não e, o que parecia um planejamento de longo prazo, tornou-se uma espiral de reconstruções. Graças a um histórico de quatro vitórias e doze derrotas, o corpo técnico e diretoria foram substituídos novamente. Para a temporada de 2014, Mike Pettine, ex-coordenador defensivo do Buffalo Bills veio para ocupar a vaga deixada por Chudzinski e Ray Farmer, que já estava no staff da diretoria, foi promovido a general manager.

Em comum nos dois primeiros anos de regime de Haslam foram as poucas escolhas no draft. A formação do elenco em 2013 teve apenas cinco selecionados, sendo que apenas o linebacker Barkevious Mingo fez parte do roster final daquele ano. Em 2014, no entanto, seis jogadores foram escolhidos, e todos fizeram parte do elenco. Só que, nesse último, veio a escolha mais Browns da escala Browns de fatos inacreditáveis.

Antes do draft, a necessidade de contar com um quarterback era eminente, já que Brandon Weeden e Jason Campbell foram dispensados em relação ao time de 2013. A classe de 2014 tinha alguns nomes interessantes e, com duas escolhas na primeira rodada, Cleveland teria a chance de consertar um problema crônico desde o retorno às atividades, em 1999. Teria, pois, com Jimmy Haslam, as coisas parecem nunca funcionar pela razão.

Com Derek Carr, Jimmy Garoppolo e Teddy Bridgewater disponíveis, os Browns, guiados pela paixão de torcedores como um morador de rua, deram motivo para que Haslam indicasse o desejo de contar com o produto de Texas A&M na escolha 22, ao invés de seguirem um plano mais consistente e escolher outro jogador que agregasse solução. Depois de quase quatro anos, é possível dizer que Johnny Manziel é uma das piores escolhas da história da franquia, principalmente pela falta de comprometimento com o que é ser um jogador da NFL, o que levantava dúvidas desde os tempos de college, por conta das polêmicas em que se envolveu.

Johnny Manziel em sua já icônica (e infame) celebração ao ser selecionado na primeira rodada do draft 2013

Graças a essa escolha e também pela pressão de Haslam em ver Manziel jogar, uma promissora temporada que começou 7-4, com possibilidade de vaga nos playoffs, terminou 7-9 e, em 2015, ano que o time poderia alcançar alguma estabilidade e uma sequência de acontecimentos, alguns deles envolvendo o próprio Johnny, bagunçaram o vestiário dos Browns e o time fechou 2016 com um 3-13 melancólico, que ocasionou a demissão de Farmer e Pettine, a terceira reformulação do staff em quatro anos. Vale lembrar que Kyle Shanahan, então coordenador ofensivo em 2014, pediu demissão após ser obrigado a aceitar a escolha de Johnny Football.

Com a saída da dupla anterior de HC e GM, veio a terceira movimentação brusca no staff, dessa vez com a vinda de Hue Jackson para comandar os jogadores e a promoção de Sashi Brown para o cargo de gerência. Os dois seriam subordinados diretos de Haslam. Tudo parecia perfeito no princípio, com indícios de que essa nova forma de observar o jogo seria a melhor para a organização. Pena que, tudo que é bom, dura pouco, e com os Browns não foi diferente.

A primeira temporada teve pequenos avanços, apesar dos resultados adversos, e Jimmy deu sensação de confiar no trabalho de Sashi e Hue, garantindo que os dois se manteriam em 2017. A segunda temporada desse novo regime veio, a pressão subiu e Haslam novamente disse que estava seguro com o “pojeto” mas, como sempre, ele voltou atrás com a palavra e mandou Sashi embora no início de dezembro, mesmo que isso significasse abraçar a causa de um técnico que mostrou um plano de jogo limitado, que não se adapta aos jogadores e, na primeira oportunidade, culpa qualquer um ao redor, menos ele mesmo.

No mesmo dia da demissão de Brown, John Dorsey, ex-general manager do Kansas City Chiefs com passagem pelo Green Bay Packers foi trazido. Dorsey possui experiência na área após montar uma base consistente em ambos os times, com jogadores de calibre alto, como os Pro Bowlers Marcus Peters, Tyreek Hill e Kareem Hunt, além de atrair Alonzo Highsmith e Eliot Wolf, filho do general manager Hall of Famer Ron Wolf, para cargos auxiliares no time. No fim das contas, o escalpo de Sashi Brown valeu três novas caras no comando da franquia.

Até quando ele manterá a paciência após a terceira mudança profunda no staff? Não sabemos, ainda mais levando em conta que, a temporada 2018 servirá como avaliação definitiva de Hue Jackson, que não terá quem culpar por um eventual fracasso, já que foi bancado diretamente por Jimmy mesmo com a troca na diretoria, que costuma querer trazer pessoas da própria confiança. O fato é que, para fazer a situação mudar, ele tem que fazer muito mais do que tem feito desde quando comprou o time e superar um histórico de setenta e uma derrotas e apenas dezenove vitórias. É pouco provável que a torcida, que já promoveu um protesto no fim dessa temporada por conta do 0-16, deposite o resto de confiança em Haslam se vier outro rebuild. Já são quatro head coaches e cinco general managers desde quando assumiu o time. Consistência é uma palavra que passa longe de Berea.

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Uma resposta

  1. Eu fiquei muito bravo mas não surpreso quando o Sashi Brown foi demitido, isso é muito a cara do Browns. Senti raiva porque realmente parecia que ele estava indo para algum lugar, diferentemente do Hue Jackson

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