Um jogo só termina quando acaba

Um jogo só termina quando acaba

A frase não é minha, mas sim do célebre Vicente Matheus, presidente que fez história no Corinthians. O mesmo que afirmou ter um atleta invendável e imprestável. Mas, folclores do esporte bretão à parte, a frase cai como uma luva no beisebol. A paciência precisa ser intrínseca para quem acompanha a modalidade, pois cada jogo é composto por nove minijogos, cada qual com sua história e que na somatória de seus placares aponta um vencedor.

Isso ficou claro na partida de quarta-feira (19), entre San Diego Padres e Philadelphia Phillies. Não existe abismo que não possa ser transposto. O que existe é um jogo de xadrez com peças humanas, que desafia a nossa compreensão. Somos moldados pelo futebol, um esporte com regras de entendimento bem mais simples (exceto a da mão na bola ou bola na mão). Muitos entrantes do beisebol não compreendem que sim, pode um time sair atrás por 4 a 0 (e ficou barato) para virar um jogo com autoridade. Eles largam mão na primeira dificuldade.

Que pode acontecer de um arremessador ceder quatro corridas e ao mesmo tempo estar realizando um jogo sólido. Assim como ocorreu com Blake Snell (5.0 IP, 5 H, 4 R, 4 ER, 1 BB, 6 K, 0 HR). Para isso, basta a defesa não fazer o seu trabalho nos arremessos que geram contato ruim (sim, existem arremessos específicos para gerar contato ruim). E pode um arremessador que está realizando uma partida sólida implodir durante um minijogo, abrindo espaço para a virada do adversário. Tal qual ocorreu com Aaron Nola (4.2 IP, 7 H, 6 R, 6 ER, 0 BB, 6 K, 2 HR) e seus substitutos.

Pode um time que foi dominado por um jogo inteiro e uma entrada alcançar treze rebatidas e oito corridas nas sete entradas seguintes. Isso graças a sutis mudanças como a promovida por Bob Melvin na escalação, colocando um rebatedor de contato e dois de potência na sequência por duas vezes, apostando também no bom desempenho que a parte baixa da escalação – do sexto ao nono rebatedor – vinha apresentando.

O beisebol é um jogo de muitos detalhes e não canso de dizer isso. É também um jogo muito mais imprevisível do que a NFL, NBA ou NHL. Tudo pode mudar de uma hora para a outra e aí que está a graça deste esporte amado pelos norte-americanos, caribenhos e orientais, mas que muitos brasileiros tacham de chato, de monótono.

Isso acontece exatamente por ainda não terem entendido a essência do jogo, que não são as estatísticas (o moneyball), mas sim os pequenos duelos que ocorrem nas nove entradas, com arremessadores buscando suplantar rebatedores, apanhadores chamado os arremessos certos e defensores fazendo o possível para não deixar a bolinha tocar o chão. Caso falhem, precisam realizar uma escolha defensiva em frações de segundo. E por aí vai …

Um jogo de beisebol é um universo, um microcosmos que quanto mais você assiste e pratica, mas você entende. E na hora que a beisebolinha estiver voando, lembre-se do que Humberto Gessinger canta. “É preciso fé cega e pé atrás, olho vivo, faro fino e tanto faz. É preciso saber de tudo e esquecer de tudo. Fé cega e pé atrás”. O esporte das bases é exatamente sobre isso: não deixar de acreditar nunca, mas saber que do outro lado tem um time pronto para capitalizar qualquer chance que tiver chance.

Sobre a série sobre Padres e Phillies, não arrisco um prognóstico. Já disse no PadresCast que não somos favoritos, mesmo sendo um torcedor café e ouro. Mas acredito que a série volta para San Diego para mais um ou dois jogos. Acredito também que a passagem pela Filadélfia vai colocar mais combustível nesta rivalidade e testar a fé de muita gente. E também fazer muitos enfim entenderem que um jogo de beisebol só termina quando acaba.

Autor: Henrique Porto

Todos os conteúdos publicados neste site são de responsabilidade de seus autores e não necessariamente refletem as opiniões e posicionamentos da FN Network.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

NOTÍCIAS RELACIONADAS

CollegeCast #248: Preview The American, Parte 2 - Mapa pro tesouro pirata!
CollegeCast #248: Preview The American, Parte 2 – Mapa pro tesouro pirata!
Os 6 Aneis - SB XL
BlackYellowBR 529 – Os Seis Anéis EP5 – Super Bowl XL
Hard Count Podcast - Episódio 222 - Tier list defesas para 2025
Hard Count Podcast – Episódio 222 – Tier list defesas para 2025
INDIANAPOLIS, IN - JUNE 22: Shai Gilgeous-Alexander #2 of the Oklahoma City Thunder celebrates winning the Bill Russell NBA Finals Most Valuable Player trophy after winning Game Seven of the 2025 NBA Finals against the Indiana Pacers on June 22, 2025 at Gainbridge Fieldhouse in Indianapolis, Indiana. NOTE TO USER: User expressly acknowledges and agrees that, by downloading and or using this Photograph, user is consenting to the terms and conditions of the Getty Images License Agreement. Mandatory Copyright Notice: Copyright 2025 NBAE (Photo by Logan Riely /NBAE via Getty Images)
Oklahoma City Thunder campeão da NBA: Apenas o começo?
Arte 354
Lambeau Leapers #354 – Analisando o Roster
podcast-cream
BlackYellowBR 528 – Os Seis Anéis EP4 – Super Bowl XIV
Ep 247: O doce som dos bastões de metal! (com João Oliveira, ex-Rebatida Podcast)
CollegeCast #247: O doce som dos bastões de metal! (com João Oliveira, ex-Rebatida Podcast)
qsqoymoz1jiwzhz1pnbn
Florida Panthers bicampeão da NHL: inicia-se uma dinastia?
Hard Count Podcast - Episódio 221 - Tier list ataques para 2025, NFL no Brasil e Superliga CBFA
Hard Count Podcast – Episódio 221 – Tier list ataques para 2025, NFL no Brasil e Superliga CBFA