Os underdogs do underdog

Os underdogs do underdog

Underdog Ă© um termo utilizado para designar um perdedor esperado de uma competição. Em bom portuguĂȘs, seria o azarĂŁo. E na opiniĂŁo da maioria avassaladora dos especialistas norte-americanos em beisebol, o New York Mets era ‘pule de dez’ contra o San Diego Padres. Muitos acreditavam que os nova-iorquinos iriam levar a sĂ©rie com os pĂ©s nas costas, quando na verdade levaram um pĂ© nas costas e ganharam de brinde uma temporada antecipada de fĂ©rias. Muito graças aos underdogs do underdog.

Como Ubiratan Leal ponderou muito bem na transmissão da ESPN e sempre fizemos questão de exaltar no Padres Cast, temos um time muito bom, com bons jogadores em cada posição, mas que não estava entregando todo o seu potencial. Cada atleta por seus motivos pessoais, alguns que nunca saberemos, mas é consenso que os Padres deixaram a desejar na temporada regular. Não digo ao ponto de ser campeão da divisão, mas sim de avançar aos playoffs mais tranquilamente.

Nós, fiéis, nunca deixamos de acreditar neste time. Bob Melvin também não. Faltava apenas os jogadores entenderem que o talento vence jogos, mas só o trabalho em equipe ganha campeonatos. E isso não é uma frase minha, mas sim do inconteståvel Michael Jordan. Pois bem, parece que agora entenderam e o que vimos contra o Mets, em Nova Iorque, foi o mesmo Padres do início da temporada, com seu beisebol coletivo, de impulsionamento, com o todo sendo mais importante do que o eu. Teve até bunt de Soto para impulsionar companheiro. Uma entrega total.

JĂĄ enaltecemos na coluna a paciĂȘncia de Bob Melvin para recuperar seus jogadores. SĂł nĂŁo imaginava que seria possĂ­vel recuperar Trent Grisham. De Golden Glove em 2020 a moeda de troca na Ășltima janela de transferĂȘncia, o campista central parecia condenado ao ostracismo em San Diego. Mas deu a volta por cima, quando muitos – inclusive eu – jĂĄ o considerava um caso perdido. Mas o underdog que deu a volta por cima e fechou uma sĂ©rie contra Scherzer e De Grom com aproveitamento de 50% no bastĂŁo. Dificilmente manterĂĄ o percentual contra Los Angeles, mas na hora certa mostrou o seu valor.

Austin Nola nunca foi unanimidade entre os torcedores dos Padres, que tinham no explosivo Jorge Alfaro (#LFGSD) um modelo ideal de jogador. Forte, braço potente, frases de efeito e rebatida de moer a bolinha. Franzino, calado, braço fraco para eliminar na segunda base e rebatedor de contato, Nola era o autĂȘntico underdog. Mas ele possui uma coisa que ainda vai demorar muito tempo para Alfaro alcançar: uma leitura de jogo impecĂĄvel. E foi essa leitura que potencializou as atuaçÔes de Darvish e Musgrove. Fora que no combo ainda vieram as rebatidas em momentos chave, coisa que ele jĂĄ vinha executando com maestria no decorrer da temporada.

Ambidestro no bastão, Profar é um tipo de jogador raro na MLB. Se adapta ao arremessador contrårio e vira uma pedra no sapato de qualquer treinador adversårio. Pior, muda de lado conforme as passagens no bastão vão acontecendo, desnorteando quem estå no montinho. Não à toa é o primeiro a rebater nos Padres. Mas, assim como todos no elenco, o underdog passou por altos e baixos na temporada. Parece ter se encontrado nos playoffs e a sua defesa no primeiro jogo contra os Mets foi crucial. Sem chance de defesa direta, mostrou qualidade ao barrar a trajetória da bola e impedir o seu avanço, enquanto voltava para jogå-la ao campo interno e brecar corridas.

Ele jĂĄ avisou que nĂŁo vai ficar e apĂłs anos se doando no campo externo, Myers reencontrou o seu melhor jogo atuando na primeira base. O nosso ‘Menino Maluquinho’ Ă© aquele jogador raiz, que usa o bonĂ© ao contrĂĄrio no banco e poucos equipamentos de proteção para rebater, a começar pelas luvas. É o bom moço, com um toque de rebeldia. Passou boa parte da temporada lesionado, mas voltou em grande estilo. No bastĂŁo, estĂĄ entregando. E na defesa, dando show, como fez no terceiro jogo contra o Mets, seja na catada sem luva ou naquela bola rasteira na primeira base, que lembrou um goleiro de futebol. O underdog vai atrĂĄs de novos ares na prĂłxima temporada, mas junto levarĂĄ os nossos coraçÔes.

No decorrer da temporada regular, soltei em nosso grupo de Whatsapp que Ha Seong Kim nĂŁo estava mais Ă  sombra de Tatis. Que na verdade Tatis tinha virado a sua sobra. Na Ă©poca muitos me julgaram, afirmaram que eu estava me precipitando. Hoje jĂĄ tenho dĂșvidas se nĂŁo repensaram seus pontos de vista. A verdade Ă© que o sul-coreano conseguiu a proeza de nĂŁo sentirmos saudade alguma do nosso ‘showman’. Com atuaçÔes seguras e muita entrega pela equipe, o underdog Ă© incontestĂĄvel como interbases. Ao ponto de Machado aprender a falar ‘eu te amo’ em coreano, para incentivar o amigo quando ao bastĂŁo.

Orelhas a parte, os Mets jĂĄ fazem parte do passado. Agora teremos pela frente aqueles de quem nĂŁo falamos o nome e continuamos como underdogs, mas nĂŁo pensem que a temporada regular serve de parĂąmetro para agora. Como escrevi no Ășltimo texto, Melvin foi sagaz ao desprezar as sĂ©ries contra eles, preservando a energia e o foco para este momento. Depois eles nos varrerem e humilharem a rodo, mas foi tudo de caso pensado. No ano passado gastamos nosso beisebol contra os vizinhos do norte e esquecemos de jogar contra Rockies e D’Backs. Deu no que deu. Mas agora a histĂłria Ă© outra e se preparem, porque a zebra vai galopar faceira pela Vin Scully Avenue e arredores.

Autor: Henrique Porto

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