O que podemos aprender com Azócar?

Fala fiéis, geralmente escrevo sobre o nosso farm system, mas hoje quero abrir um espaço se permitem, para apresentar a vocês a história de José Enrique Azócar, um venezuelano de 26 anos, que sofreu bastante para chegar nas grandes ligas. Azócar, natural da cidade de Guiria no estado de Sucre. Quando José Azocar soube que tinha chegado às grandes ligas, impossível não lembrar das suas 9 temporadas nas ligas menores, da sua infância difícil no interior da Venezuela e do período que passou em descrédito no Detroit Tigers e olha que ele foi contratado, quando tinha apenas 16 anos pela franquia do estado de Michigan. AJ Preller (general manager dos Padres), viu uma janela de oportunidade e assumiu a responsabilidade de oferecer uma oportunidade para um jogador de 25 anos (na época) que não só oscilava, mas tinha mais desempenhos ruins, do que bons quando estava nas minors do Tigers e patinava para chegar na MLB.

No entanto, conhecemos bem o nosso Padres, aqui se tem fé e acredita nas pessoas! Naquele ano impactado pela pandemia (2020), Azócar não jogou beisebol, nem se quer foi convidado pelos Tigers para o treino de primavera. Mas AJ manifestou interesse no jovem venezuelano, depois que ele se tornou um agente livre de liga menor. Azócar acabou concordando em assinar com a gente. Comprou a ideia e o projeto apresentado, de que para ele chegar na MLB, teria que seguir um plano individual desenvolvido para ele, suar muito a camisa e melhorar a sua disciplina/paciência no home plate. Ele detinha alguns números desanimadores, 96 walks contra 587 strikeouts. Ele nunca passou uma temporada com mais de 25 walks.

Azócar seguiu para San Antonio no Texas, onde fica o nosso afiliado do nível Double-A nas minors, o Missions. Lá, ele chegou a incrível marca histórica de sua carreira de 35 walks contra 71 strikeouts, contribuiu com 43 RBI, 9 home runs, 6 rebatidas triplas, 8 duplas e 15 roubos de bases, uma grande evolução. Ele trabalhou duro para isso, passou várias horas na gaiola de rebatidas, aqui vai o crédito para o treinador de rebatidas do Missions, Raul Padron, e ao coordenador de rebatidas das ligas menores dos Padres, Oscar Bernard. Azócar melhorou sua leitura de arremessos, realizou exaustivos e repetitivos exercícios, adquirindo uma melhor compreensão da zona de strike. E o esforço foi premiado, promovido ao El Paso de Chihuahuas, o nosso afiliado Triple-A, manteve seu bom desempenho, conquistou 8 rebatidas duplas, 27 RBI, 17 roubos de base e tudo isso, com a metade de idas ao home plate (de quando estava no Missions). Fez o suficiente para ganhar um convite para o treino de primavera dos Padres em 2022, em Peoria no Arizona. No spring training ele chegou com fome, estava decidido, queria seu nome no roster da franquia para a temporada, conseguiu um OPS de 0,929, uma média de rebatidas de .304, com 7 hits, 1 home run, 3 RBI, 3 walks e 7 strikeouts, tudo isso em 14 jogos na Cactus League.

Em 6 de abril de 2022, horas antes da abertura da temporada dos Padres na MLB contra o Diamondbacks no Arizona, Preller telefonou para Azócar, para informar que todo o seu esforço não foi em vão, ele foi recompensado, chegou a hora! Ele estava no roster do Padres para o Opening Day, ele mesmo emocionado, sorriu quando Preller disse: “você conseguiu”, Azócar comentou que: “Quando você olha para trás e quer jogar nas grandes ligas e vê 140 strikeouts contra 10 walks, provavelmente não quer esse cara no seu time, sabe? Então no ano passado foi um processo. Eu estava acreditando nisso e trabalhei todos os dias para tentar evoluir, porque foi a única maneira de estar aqui agora”.

Sua presença no clubhouse dos Padres é uma prova do seu talento e da sua perseverança, um exemplo para nós meros torcedores, nunca devemos desistir de nossos sonhos, mesmo diante de tantas adversidades. Assim como Azócar, temos outros exemplos também como um de nossos melhores relievers na temporada, Steven Wilson, que era motorista de aplicativo para complementar renda como jogador de minor league e não desistiu de seu sonho de chegar as grandes ligas. Azocar, agora é marido, pai e, finalmente, um jogador da liga principal. Já jogou nas três posições de campo externo pelo Padres. É uma peça importante que Melvin sabe usar, não é titular, assim como não temos titulares definidos com a exceção talvez de Manny Machado, de resto ninguém tem vaga cativa. Até 26/05/2022 Azócar soma 30 partidas, 46 idas ao bastão, tem 2 corridas anotadas, 11 hits, 1 rebatida dupla, 5 corridas impulsionadas, 5 walks, 2 roubos de base, uma média de rebatidas em torno de .240 e um OPS de .569.

Quero lembrar você caro leitor, que esses números são interessantes, se você considerar que Azócar é um jogador do nosso banco de reservas, mas é polivalente, entra como pinch runner, roda o descanso nas posições do campo externo, tem muito valor para o time. Tanto que Melvin prefere o jovem venezuelano para essas situações do que Matt Beaty, que no papel teria mais oportunidades e chances de produzir. Azócar pode facilmente ser o quarto ou quinto outfielder útil do plantel e ele continua aprimorando seus ofícios, não está satisfeito, tenta sugar o máximo de conhecimento de todos jogadores mais experientes em sua volta, sempre perto de Profar, Machado, Hosmer e agora, de Robinson Canó, essa semana fomos premiados com uma rebatida simples ou na sua língua materna “un sencillo”, que valeu um walk off no jogo contra os Brewers, prestem atenção na quantidade de companheiros que foram abraçar e comemorar com ele esse momento. De qualquer maneira a história de Azócar o faz vencedor, só por nos ensinar a lição de que não devemos desistir das pessoas (como fez AJ Preller e seus treinadores nas ligas menores), do nosso time (que acredita nas pessoas) e dos nossos sonhos.

Ele tem talento, possui multi ferramentas, em uma off season onde se falou muito de jogadores tarimbados (o que seria bom também), como Suzuki, Castellanos, Cruz, Reynolds e outros outfielders, fato é que ninguém esperava que Profar se estabeleceria como um bom outfielder, Myers sempre teve qualidade ali ninguém nunca duvidou e Grisham, ah o Grisham é um mix de amor e ódio com a torcida, ultimamente vem recuperando seu bom jogo e ainda temos José Azócar cara, para ser um coringa ali quando precisar. Tudo isso se mantendo dentro do “teto salarial” e com um time jovem com possibilidade de remanejar alguns atletas no roster, inclusive o próprio Tatís Jr., é ventilado no campo externo.

Isso mostra que até mesmo nós torcedores, nem sempre compreendemos os mistérios que envolve o nosso time e esse esporte maravilhoso, são essas coisas inexplicáveis, que nos torna diferente de qualquer outra equipe! Aqui se acredita nas pessoas, no sistema, nos valores e continuamos a confiar em AJ Preller, e agora no timoneiro Bob Melvin, que foi acostumado em Oakland a situações exatamente como a de Azócar, jogadores desacreditados, desprestigiados, renegados, mas que tem seu devido valor e depois ninguém entende como passaram despercebidos.

Autor: Victor Salviano @VSalviano (twitter)

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