Indianapolis Colts e a cultura do fracasso

Por William Borella

O Indianapolis Colts passa por momentos conturbados desde a aposentadoria e saída de Peyton Manning do time em 2010. Alguns podem questionar: mas o Colts draftou Andrew Luck em 2012 e chegou a uma final de conferência em 2014. Por que fracasso?

Este texto busca responder a essa pergunta.

O cerne do problema é o proprietário do time, Jim Irsay, que, inegavelmente apaixonado pelo time e pela cidade, toma decisões, muitas vezes, baseadas mais em emoção do que em razão. Foi assim quando ele estendeu os contratos de Ryan Grigson e Chuck Pagano ao final da temporada de 2015 (ambos foram demitidos uma temporada depois) e novamente ao demitir o então técnico principal Frank Reich para contratar seu amigo e ex-jogador Jeff Saturday, que assumiu o comando do time no meio da temporada de 2022 após resultados insatisfatórios.

Irsay é, sem dúvida, um dos donos mais vibrantes e emocionais da liga, mas suas decisões questionáveis indicam uma franquia sem um rumo claro, sujeita às oscilações de seu temperamento.

Outro fator importante é a posição de General Manager (GM). Desde a saída de Peyton Manning, dois GMs ocuparam o cargo: Ryan Grigson e Chris Ballard. Grigson foi o responsável por draftar Andrew Luck — um dos melhores prospectos desde Manning, embora o jovem Robert Griffin III também fosse considerado talentoso. Grigson acertou na escolha de Luck e em outras posições no draft de 2012, como o wide receiver e principal alvo de Luck, T.Y. Hilton. Esse draft lhe rendeu o prêmio de GM do ano pela NFL. No entanto, daí em diante, Grigson fracassou em praticamente todas as tentativas de fortalecer o time e dar uma base sólida a Luck.

A troca por Trent Richardson, a incapacidade de montar uma linha ofensiva decente para proteger o quarterback e a falta de habilidade para avaliar talentos nas contratações levaram à demissão de Grigson. Esses erros culminaram na aposentadoria precoce de Luck, na pré-temporada de 2019, que, exausto dos inúmeros processos de recuperação de lesões, decidiu se afastar dos gramados.

Após a demissão de Grigson, o Colts contratou Chris Ballard, que trabalhava no front office do Kansas City Chiefs. Ballard iniciou sua gestão no Colts em 2018 e, até o momento, ainda não conseguiu montar um time ameaçador em uma AFC tão competitiva, que concentra os melhores quarterbacks da liga. O atual GM levou cinco temporadas para “encontrar” um quarterback para o time, sendo que Anthony Richardson, draftado como a 4ª escolha no primeiro round de 2023, foi colocado no banco pelo técnico Shane Steichen, mas já voltaremos a esse ponto.

Desde que Ballard assumiu, o Colts ainda não conseguiu ser campeão da própria divisão, que, vale ressaltar, não é uma das mais disputadas da NFL e chegando na pós-temporada apenas uma vez. Ballard contratou diversos quarterbacks veteranos para suprir a aposentadoria de Luck em 2019, entre eles Jacoby Brissett, Carson Wentz, Philip Rivers e Matt Ryan. Nenhum deles conseguiu levar a franquia a um nível de atuação elevado (com uma menção honrosa para a temporada de Rivers).

Além disso, Ballard mantém uma filosofia rigorosa de ignorar grandes jogadores disponíveis na Free Agency (FA), concentrando-se no draft. Os jogadores que chegam via FA são, em sua maioria, contratações de curta duração e com pouco impacto técnico para o time. Ballard prefere gastar o dinheiro que o time tem disponível no teto salarial (CAP) para renovar contratos de seus próprios jogadores. Em uma liga tão competitiva como a NFL, onde grandes jogadores, além de dinheiro, buscam grandes projetos e equipes de destaque, essa estratégia compromete o desenvolvimento do time.

Ballard também falhou em assegurar um técnico principal, quando Mike McDaniels, então coordenador ofensivo do New England Patriots, recusou a proposta na última hora, forçando Ballard a buscar um técnico às pressas (Frank Reich foi o escolhido).

Recentemente, Ballard foi conivente com a decisão de Shane Steichen de colocar Anthony Richardson no banco de reservas em favor de Joe Flacco. Segundo o técnico, Richardson precisa evoluir como jogador e líder. No entanto, não se sabe exatamente o que motivou Steichen a retirar Richardson. Essa decisão é extremamente questionável, já que Richardson foi draftado justamente para encerrar o ciclo de quarterbacks improvisados desde 2019. O Colts parece ter abandonado ou pausado o projeto Richardson, o que é incoerente com o discurso de todos na franquia logo após selecionarem o QB no draft.

Quando foi draftado, o consenso na liga e entre o front office do Colts era de que Richardson precisaria evoluir em muitos aspectos do jogo, devido à pouca idade e experiência. Sua imaturidade era clara para toda a liga. Em sua primeira temporada, ele jogou pouco, acumulando lesões, incluindo uma que encerrou seu ano. No ano seguinte, Richardson começou a temporada com mais baixos do que altos, enfrentando problemas de precisão e dificuldades em manter o ataque em campo devido a tentativas constantes de jogadas explosivas.

Após um jogo com desempenho insatisfatório (10/32 passes completados, 175 jardas, 1 touchdown e 1 interceptação), Steichen colocou Richardson no banco, defendendo que Joe Flacco, de 39 anos, daria mais chances de vitória nas partidas restantes. Nos dois jogos seguintes, Flacco não demonstrou essa superioridade, acumulando derrotas e desempenhos medianos. Apesar disso, Steichen manteve a escolha, sem evidências de que ela realmente beneficiaria a equipe.

A decisão de interromper o crescimento de Richardson compromete anos de desenvolvimento do time. Ao final da temporada, o Colts estará com um quarterback de 22 anos, sem confiança do técnico e da franquia, e um veterano de 39 anos, sem contrato e sem perspectiva de futuro no time. Se o Colts decidir manter o plano com Richardson, ainda será necessário tempo para que ele desenvolva suas habilidades e liderança. Se, por outro lado, optarem por encerrar o projeto Richardson, o time terá de buscar um novo quarterback, seja veterano, via Free Agency ou draft, onde estará mal posicionado para escolher os melhores talentos.

A decadência dos Indianapolis Colts desde a era pós-Manning tem raízes profundas na falta de um rumo sólido e consistente, reflexo das decisões impulsivas de Jim Irsay e das falhas estratégicas do front office. A paixão e a interferência emocional de Irsay, embora demonstrem seu envolvimento, resultaram em mudanças de liderança desordenadas e questionáveis, criando uma franquia com planejamento frágil e futuro incerto. Chris Ballard, por sua vez, que parecia promissor inicialmente, permanece preso a uma filosofia conservadora, ignorando talentos de impacto disponíveis na Free Agency e falhando em consolidar a posição de quarterback.

A recente decisão de colocar Anthony Richardson no banco em favor de um veterano sem futuro na franquia apenas aprofunda a sensação de uma organização sem direção. Richardson e os torcedores dos Colts agora vivem na incerteza, comprometendo anos de desenvolvimento e o próprio projeto que ele representa.

Com isso, fica claro que o fracasso dos Colts decorre de uma cultura de decisões impulsivas e da ausência de uma liderança estratégica que defina um plano concreto para a franquia, selando seu destino em uma zona de mediocridade e frustração para os torcedores.

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