O Florida Panthers entrou para a história da NHL na noite desta última terça-feira ao conquistar seu segundo título consecutivo da Stanley Cup, vencendo o Edmonton Oilers por 5 a 1 no jogo 6 e fechando a série em 4 a 2. Diante de sua torcida em Sunrise, na Flórida, a equipe não só ergueu novamente o troféu mais cobiçado do hóquei, mas se consolidou como uma potência da liga, com um desempenho que já começa a ser reconhecido como um dos grandes ciclos vencedores da era moderna da NHL.
A partida decisiva teve o roteiro perfeito para os Panthers. Desde o primeiro minuto, o time da casa controlou o ritmo, sufocando os Oilers com uma pressão implacável e convertendo as chances com uma efetividade típica dos Panthers. Sam Reinhart foi o grande nome da noite, marcando nada menos que quatro gols – um feito raro, que o coloca lado a lado com lendas do passado como Maurice Richard. Abrindo o placar logo cedo, forçou Edmonton a jogar no desespero pelo resto do jogo. O capitão Aleksander Barkov também deixou sua marca ainda no primeiro período, e o jogo foi ganhando contornos de festa à medida que o tempo passava.
O gol de honra dos Oilers, anotado por Vasily Podkolzin no terceiro período, não foi suficiente para iniciar uma reação de Edmonton, já que Matthew Tkachuk balançou as redes pela última vez naquela noite, selando o 5 a 1. A Amerant Bank Arena foi ao delírio e continuou a festa que se iniciou em 2023/24, já que conquistaram seu segundo anel seguido de campeão.
Mas a grande questão é: como um time que nunca havia sido campeão conseguiu dois títulos seguidos? A resposta passa muito pelo técnico Paul Maurice, já que desde que assumiu o comando técnico em 2022, o time vem em constante evolução. Em três temporadas sob sua direção, Florida foi a três finais e venceu duas, além de vencer 11 das últimas 12 séries de playoffs que disputou (a única derrota foi justamente a Stanley Cup de 2022/23 contra o Vegas Golden Knights por 4-1). Um desempenho de elite, que exige não só talento, mas disciplina, saúde física e mental, consistência e profundidade de elenco — qualidades que os Panthers tem de sobra e explicaremos o porquê.
Com um grupo formado com o intuito de ter núcleo extremamente sólido, várias valências e lideranças foram construídas ao longo destes três anos. Barkov é o grande líder desta equipe com uma inteligência acima da média, Reinhart vem sendo cada vez mais decisivo em jogos grandes, Bennett terminou os playoffs com absurdos 15 gols (e levou o Conn Smythe como MVP dos playoffs), Tkachuk é um dos preferidos da torcida, incendiando a arena e mudando o fator casa para os Panthers, além do goleiro Bobrovsky, que apesar de não ter mantido o nível de 2024 o tempo todo, segue sendo uma peça muito confiável do elenco. A temporada também teve contribuições pontuais de nomes experientes como Brad Marchand, que chegou via troca e trouxe uma experiência vencedora muito importante para manter o apetite do time, além de Seth Jones, que também chegou para fortalecer a defesa e deu ainda mais robustez ao jogo físico dos Panthers, que joga duro, provoca, pressiona e, acima de tudo, sabe manter o foco mesmo quando o jogo vira uma batalha mental.

Esse estilo tem sido apelidado por muitos analistas de “dirtbag hockey” – algo como hóquei canalha – por causa da forma como a equipe abraça o jogo físico e psicológico. Eles não pedem desculpas por jogarem no limite. Pelo contrário, usam isso como arma. E o mais impressionante é que conseguem combinar essa intensidade com inteligência tática. Mesmo sendo um dos times mais penalizados da liga, possuem um dos melhores penalty kills da NHL, o que praticamente neutralizou os power plays do Oilers. Connor McDavid, tratado de forma merecida como um dos maiores talentos da história do hóquei, marcou apenas uma vez na série. Leon Draisaitl passou em branco. Isso diz tudo. A comparação com os grandes elencos campeões do passado é inevitável. Os Panthers vêm tendo um alto nível semelhante ao que vimos no Tampa Bay Lightning entre 2020 e 2021, o Blackhawks da década passada ou o Penguins de Crosby e Malkin.
Além de vencer, o time também transmite confiança e estabilidade que parece que não irá sumir nos próximos anos. Diferente de 2023, quando perdeu a final para o Vegas Golden Knights e conviveu com lesões importantes, a equipe de 2024 e 2025 chegou às finais saudável e em alta rotação. Isso permitiu que Maurice pudesse fazer ajustes táticos jogo a jogo, fortalecendo cada vez mais a química entre os jogadores. Sem estrelismo ou individualismo, o coletivo toma conta do vestiário, resultando em um hóquei compacto, maduro e difícil de ser batido.
Enquanto isso, os Oilers, apesar do talento absurdo que carregam, terminam mais uma temporada com frustração. Já são três anos seguidos batendo na trave, e as perguntas sobre mudanças no elenco irão surgir, inevitavelmente. McDavid é genial, como dissemos, mas o time parece incapaz de acompanhá-lo nos momentos decisivos, o que foi diferencial para o resultado da série, pelo segundo ano seguido.
Matthew Tkachuk soltou de bate-pronto: “We gotta be a dynasty now.”, ou “nós devemos ser uma dinastia agora”, em português. A frase não é apenas um desejo, mas uma constatação. Com dois títulos seguidos, três finais consecutivas e um núcleo ainda jovem, o Panthers tem todas as ferramentas para continuar vencendo por anos. A pressão, claro, aumenta. Todos vão querer derrotar o campeão. Mas esse grupo já mostrou que não se intimida com pressão. Pelo contrário, parece crescer com ela.
O futuro ainda está em aberto, como sempre no esporte. Mas se os Panthers continuarem jogando nesse nível, com essa intensidade e coesão, não será surpresa vê-los novamente levantando a Stanley Cup nos próximos anos. Por ora, os jogadores, torcedores e a organização como um todo podem comemorar. Porque o bicampeonato não é só um feito. É a confirmação de que o Florida Panthers chegou ao topo — e talvez, esteja apenas começando.
Por Bruno Oliveira