Por Carol Vago
Colaboração: Pedro Jorge Marinho e Daniel Tenius
A nova temporada da NFL está oficialmente aberta, marcada pela free agency, no início do mês de março. A filosofia que vem sendo implantada no time desde a temporada 2017-2018, as contratações para o front office, as alternativas encontradas para o coaching staff e os movimentos no período de free agency até então, têm evidenciado a forma como o time do Colts será reconstruído, pelo Draft. Até o momento, o Colts contratou Denico Autry, DE que atuou pelos Raiders na temporada anterior, Eric Ebron, TE ex-Lions, o WR Ryan Grant, que atuou pelo Washington Redskins na temporada de 2017, o C/G Matt Slauson, ex-Chargers, o LB Najee Goode e o CB Kenneth Acker, ex-49ers e Chiefs.
O INÍCIO NO HIGH SCHOOL
Eric Ebron começou sua carreira no futebol americano em Rhode Island, jogando pelos North Providence Jets. Ainda no high school, se mudou para a Carolina do Norte, onde passou a atuar como defensive end e como tight end por Ben L. Smith High School. Por lá, teve atuações que o credenciaram a ser um prospecto 3 estrelas segundo a rivals.com e a scout.com, empresas norte-americanas que avaliam e coletam informações para o recrutamento dos jogadores para o College Football e Basketball Recruiting.
Segundo o scouting report da ESPN (onde obteve uma avalição de 80 pontos, equivalente a 4 estrelas), Ebron já era conhecido por sua altura, tamanho de mãos e velocidade, sendo a última um pouco acima da média para a posição. No tempo em que atuou pela escola de Greensboro, Ebron teve 28 recepções para 682 jardas e 10 touchdowns, atuando como TE. Além disso, ao acumular a função de DE, ainda teve um acréscimo de 13.5 sacks quando jogava pelo time defensivo da escola.
A CHEGADA AO COLLEGE FOOTBALL
Chegou a University of North Carolina (UNC) em 2011, tendo convites também de universidades como Alabama, Clemson, Duke, Miami e West Virginia, num total de 20 universidades interessadas no jovem jogador. Nenhuma visita além de North Carolina foi realizada, graças ao recrutamento de Allen Modridge e Everett Withers, o primeiro sendo o responsável pelo primeiro contato verbal com o jogador.
Desde a chegada a North Carolina Eric demonstrava avaliar algumas situações o “coração”, movido mais pela paixão e energia em que sentia nos momentos de grandes decisões em sua vida. A sua visita ao campus de UNC foi marcada por um ambiente que Ebron define como “familiar” desde que chegou até o momento em que saiu da universidade, além de ser tomado por uma enorme sensação de que não havia “nada em UNC que ele não gostasse, sendo a primeira e a última escola (pela qual ele jogaria)”.
Em mais um episódio eufórico, Eric contou a Jon Leggette, do Carolina Blue, o quanto a chegada de Larry Fedora e seu spread offense o deixava feliz. Um novo motivador para o TE, que destacou em entrevista como focou em sua preparação física para poder jogar no seu mais alto nível por UNC. Não a toa, Ebron continuou sendo referência em atleticismo, uma das principais características que o levaram a NFL.
Quando falamos de números, o jogador teve 102 recepções para 1805 jardas e 8 touchdowns (conforme dados do perfil do jogador da ESPN). Em seu último ano no College teve atuações dignas de indicação ao John Mackey Award, dado ao melhor TE da temporada no colegial. Mas, para a infelicidade de Ebron, que terminou como semifinalista, o vencedor do prêmio em 2013 foi Austin Seferian-Jenkins. Outros nomes importantes ganharam o prêmio, como Dallas Clark (velho conhecido da nossa torcida) e Aaron Hernandez.
AS AVALIAÇÕES PRÉ-DRAFT
“Alto nível de atleticismo, que excede as expectativas para um tight end comum”. Essa frase traduz todos os scouting reports de Eric Ebron. Era indiscutível que Ebron possuía velocidade, agilidade e aceleração acima da média quando chegou a NFL, onde alguns consideravam que essas habilidades eram do mais alto nível da liga, elite. Teve o menor tempo no 40 yard-dash entre os TEs no Combine, além de deter, também o melhor broad jump da classe. Não era assustador a ninguém que Ebron pudesse “destruir” no Combine. Para Nolan Nawrocki, do NFL.com, “Ebron pode não ser da categoria ‘assustador’, mas sua velocidade, habilidades de movimentação, mãos e habilidade de correr após a recepção o colocam em um ‘próximo nível’, tendo uma ampla capacidade de ser um playmaker”.
Naturalmente, Ebron já era conhecido por ter mãos um pouco “duvidosas”. A consistência era dada como um de seus principais pontos a serem desenvolvidos, o que poderia não ser algo muito complicado, graças a seus braços longos e mãos grandes. A concentração também era um ponto muito importante para desenvolvimento do jogador, o que explicava momentos com recepções de alto nível de dificuldade alternadas com drops em recepções consideradas fáceis.
Os bloqueios também eram uma questão importante na avaliação do jogador. Sem a força necessária para enfrentar defensores de elite na liga, Ebron ainda possuía a agilidade para, ao menos, atrapalhar e desacelerar o edge rusher que enfrentava. Entretanto isso não bastava para que ele fosse um bom bloqueador, tornando esse aspecto uma das prioridades de desenvolvimento para se tornar um TE completo. Não bastassem os problemas no jogo, Ebron também era conhecido por ser imaturo, como conta Bill Polian, notório ex-general manager “não acreditava que o TE estivesse pronto para a liga, não achava que seus pés estavam firmemente no chão”. Declaração confirmada com a suspensão do jogador do Independence Bowl, de 2011, por motivos acadêmicos.
Chegou o dia do Draft e Ebron foi selecionado pelo Detroit Lions, com a 10ª escolha geral de 2014. Comparado por alguns a Julius Thomas, então TE do Denver Broncos, Eric chegou para ser a peça chave, e final, para compor um ataque que tinha tudo para explodir, com o WR Calvin “Megatron” Johnson, o RB Reggie Bush, o WR Golden Tate e o QB Matthew Stafford.
CARREIRA NA NFL
Jovem, chegando a NFL com apenas 21 anos, e com características marcantes, o tight end iniciou sua carreira no Lions. Mas, como nem tudo na vida são flores, o começo (e podemos dizer toda a carreira) de Ebron pelo Lions passou longe de ser um dos melhores possíveis, ou do que se esperava que o jogador poderia dar.
Voltando um pouquinho no tempo, Ebron contou, em entrevista após ser draftado pelo Detroit Lions, que quando tinha 10 anos de idade e seu avô faleceu, fazendo que com que o jovem perdesse o interesse pelo jogo e qualquer outra coisa. Foi sua mãe que reacendeu a paixão em Eric pelo esporte ao dizer que ele “não ficaria sentado no sofá o resto da vida, ele tinha de fazer algo”. Não parece ser exagero dizer que Ebron precisava se sentir acolhido ou ao menos motivado por outras pessoas para jogar.
Não era segredo que a escolha de Ebron foi, no mínimo, contestada e controversa. Sendo escolhido a frente de jogadores dominantes em suas posições, como Aaron Donald e Odell Beckham Jr, passou-se a esperar de Eric algo que talvez ele não pudesse entregar ao Lions. Talvez ter coaching staff não preparado para extrair o melhor do jogador tenha sido um dos principais motivos para o insucesso do jogador, aliado, naturalmente, pela pressão de uma torcida que não conseguia perdoar o jogador pelo erro da franquia ao escolhe-lo num top 10.
O primeiro ano na liga não foi nem de perto o melhor. Conseguiu apenas 25 recepções para menos de 450 jardas e um touchdown. Acredito que nem o mais pessimista dos torcedores imaginava esse desempenho do jovem TE. Seus melhores momentos foram uma recepção no Thanksgiving Day, contra o Bears, uma recepção interessante contra o Cardinals e um touchdown contra o New York Jets. Martin Mayhew, então general manager do Lions acreditava que, como todo calouro, Ebron tinha os seus problemas para aprender a como jogar em um novo ataque. Ainda assim, a comparação com TEs notáveis de drafts anteriores era impossível de não ser feita.
A segunda temporada de sua carreira foi melhor que a primeira. Assumiu a posição de TE número 1 na equipe, melhorou seu rendimento, agora com 47 recepções, 537 jardas e 5 touchdowns. Os novos ares agradavam Ebron, que parecia mais focado a cada dia de treino, e também pareciam diminuir as críticas ao seu jogo. Podemos dizer que as performances do jogador chegaram a empolgar parte da torcida. Para Mike O’Hara, colunista do site oficial do Detroit Lions, Ebron se qualificava como um jogador “velho e experiente”, naturalmente de forma relativa, graças a temporada que teve e a forma como se portava nos workouts antes da temporada de 2016-17.
Era notável a melhora de desempenho de Ebron. Em 2016-2017, o jogador teve novamente um aumento em recepções (61) e em jardas recebidas (711), entretanto o número de touchdowns diminuiu, se igualando ao único que teve na temporada de calouro. O jogador parecia cada vez mais maduro dentro de campo, o que, por outro lado, não acontecia fora de campo. A tensão entre torcida e Ebron aumentava a cada drop, problema que o jogador não conseguiu eliminar mesmo após 3 temporadas na liga. Problemas com redes sociais e discussões, no Twitter ou Instagram, com fãs se tornavam cada vez mais ríspidas. A relação, que nunca foi boa, se tornava cada vez pior.
Nova temporada, quarto ano de liga e Ebron viu-se com problemas. Como companheiro para a posição, Darren Fells, TE ex-Giants, chegou a Detroit para formar dupla com Eric. O início da temporada não foi nada bom, o jogador perdeu a posição de starter ao longo dos jogos, além de problemas com uma lesão relativamente simples comparada a seu histórico. Até que, após a segunda metade da temporada, voltou a brilhar. Considerado um dos melhores do time em Novembro pelo Football Outsiders, após uma nova motivação pessoal, o nascimento de seu primeiro filho, Ebron conseguiu ao menos terminar a temporada melhor do que começou, relativamente em alta, como 15º melhor jogador da posição de acordo com o Pro Football Focus. O que não impediu o Lions de colocá-lo no trading block e não renovar seu contrato com o time, trazendo-o ao Indianapolis Colts.
Lesões musculares na coxa, torção de tornozelo, joelho e do MCL. Os registros médicos de Ebron não são dos mais animadores dada a quantidade de lesões que teve, mas nada que o tirasse de mais de 8 jogos durante a carreira de 4 anos. Teve a sua primeira temporada completa em 2017-2018, onde teve um bom crescimento de produção na última metade da temporada regular. Não teve lesões consideradas muito graves, entretanto é um ponto a ser observado pelo Colts, que contratou recentemente Rusty Jones como Diretor de Performance e tem histórico de auxílio no condicionamento de vários jogadores notáveis.
A CHEGADA AO INDIANAPOLIS COLTS
Não é mistério que Ebron chegou ao time como opção para o jogo aéreo, uma arma que combina atleticismo e velocidade, uma valiosa “peça de xadrez” para o esquema que será implementado por Frank Reich. Não apenas sendo o alvo na jogada, mas também chamando a atenção e potencializando o jogo dos recebedores qualificados da equipe, como TY Hilton e Jack Doyle, o último sendo excelente corredor de rotas mas sem a velocidade de Ebron. Múltiplos alvos, TEs bons correndo rotas e a possibilidade de big plays alternadas com jogadas de avanços curtos, exatamente o estilo que Reich pretende implementar em Indianapolis.
Quando chegou ao Colts, Ebron logo deixou claro que o contrato com um novo time significava um recomeço, trazendo energia, intensidade e paixão pro jogo. Não a toa essas características são muito importantes para nosso novo head coach. Além disso, Ebron vê a parceria com Jack Doyle como uma reedição da relação de “Batman e Robin”, pretendendo formar uma verdadeira dupla, e, se possível fazer algo memorável.
O jogador também não poupou elogios a Andrew Luck e revelou, há alguns dias, que um dos principais motivos para aceitar o contrato de dois anos com o Colts foi a presença do QB na franquia de Indianapolis. Ebron: “acredito que ele é um grande QB, […], eu definitivamente escolhi (jogar com) Andrew Luck”. A empolgação de Ebron é evidente, em cada frase, foto ou vídeo após a sua chegada ao time de Indy.
Frank Reich, Nick Sirianni e Tom Manning tiveram o contato inicial com Ebron, o fazendo escolher Indianapolis, propositalmente, a sua última visita até assinar um novo contrato. Ebron disse ao colts.com, logo após assinar seu contrato, que o motivo de deixar a visita ao Colts por último foi a “energia que ele sentiu” por parte dos treinadores com que teve contato, o primeiro time que o procurou para uma visita.
De acordo com um dos colaborados do Fumble na Net, Daniel Tenius, do Lions Pride Brasil, Eric Ebron “acabou pagando por ter saído antes que Odell Beckham Junior, Donald e outros” no Draft. “Apesar de ter bons aspectos físicos, sofreu com drops e não ajudou quando alinhado para bloquear”, o que já era uma de suas deficiências vindo do College. Assim como o esperado, conforme declarações após assinar com o Colts, “mostrou-se muito emotivo e deixou isso evidente no último ano em Detroit, estando muito presente nas redes sociais”, ainda que tenha preferido não falar sobre o antigo time quando perguntado em entrevista ao colts.com. “O Colts pagou barato e provavelmente vai fazer dele um excelente jogador, sendo que a ideia de Frank Reich é implantar muito o jogo com dois TEs”. O jogador ainda é jovem e “tem a chance de alavancar a carreira agora”.
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