Ser inconstante é a constância dos Bucks
E quando a parte que mais odiamos sobre nós se torna parte intrínseca do nosso ser, podendo ser atrelada a espinha dorsal da nossa personalidade? “A minha inconstância é tão constante que acabou se transformando numa grande constância.” O poeta brasileiro Jaak Bosmans sabia que esse ponto na sua personalidade era irremediável. Com nove jogos na temporada podemos dizer que ser inconsistente é a parte constante desse Milwaukee Bucks.
O Jogo em Si:
Como disse um amigo após o final do jogo: se alguém me zoar hoje, vou aparecer no Datena amanhã. Sim, nervos a flor a pele. O canto da torcida ecoava pelo Brasil: vergonha, vergonha, vergonha… Time sem vergonha!…
Algumas perguntas sem respostas: Há algo que em realidade possamos experimentar objetivamente? O que EU sou? De onde viemos e para onde vamos? Como Semi Ojeleye conseguiu chegar à NBA? Nunca saberemos, ou apenas acreditaremos na verdade que gostaríamos de crer, para prosseguirmos.
A derrota de ontem veio com requintes de crueldade e foi, de certa forma, traumática. Quando veio a notícia de que o amado JRUE HOLIDAY jogaria, instantaneamente o sorriso parecia reluzir perante as trevas dos corações de cada torcedor dos Bucks na face do world – para os que amam misturar português e inglês.
O primeiro quarto – um espetáculo. As cortinas do teatro abriram para o maior espetáculo da terra. Chutando baixo foram umas 780 bolas de 3 arremessadas do perímetro, metade delas caíram. Show time! Durante alguns momentos esquecemos as desigualdades, a fome na África e as tragédias que assistimos constantemente no dia a dia. Os infelizes sentiram o coração aquecido, os entristecidos puderam sorrir e os que não tinham esperança passaram a sonhar. Numa tragicômica releitura da clássica música de Rita Lee escrita por Moacyr Franco, o restante do jogo veio para nos dizer que “Tudo vira ‘esterco’ ”; desculpe o eufemismo, pesquisem a original.
Parecia que os Bucks eram o velho Knicks, e que os Knicks eram os atuais campeões da NBA. Não ter Khris Middleton e Brook Lopez não justifica tal partida horrenda ofensivamente. Inclusive o motivo dos Bucks perderem uma vantagem de 21 PONTOS se deu na combinação de um péssimo ataque dos Bucks e a ótima defesa do New York Knicks. Quando a vantagem começou a cair o Milwaukee esteve mais desesperado que peru quando vê o Roberto Carlos no Natal.
“Ah, Renan. Fala do jogo…” Que jogo? Já disse antes e repito: não há como confiar em times que dependem de arremesso de 3 pontos. Se isso não fosse verdade, o Jazz atual seria bicampeão da NBA, e eles não o são, e nem serão. O entusiasmo que exageradamente evidenciei no quarto parágrafo deste texto engana apenas torcedores com pouco senso crítico. Bucks acertaram 16 bolas do perímetro, 6 a mais que o Knicks. Maravilhoso!
O time do Wisconsin perdeu por 15 pontos, após uma vantagem de 21 pontos. Como? Ou melhor, por quê? Porque o basquete é defesa, jogo coletivo e equilíbrio. Porque o jogo seguro e o controle da área pintada ainda são uma arma poderosa. Porque o time do NY acertou 27 de 44 no garrafão, enquanto o Milwaukee 14, em 28 tentativas. “Mas fomos bem no perímetro e…” E daí? Para piorar: perdemos porque o time não conseguiu defender e atacar no mesmo nível o jogo todo, ESTE sim o motivo mais forte da derrota.
Por fim, parabéns ao Knicks. Ontem o Nerlens Noel parecia o Embiid. O Rose tirou até a alma do corpo dos defensores de preto. Cada crossover era uma alma de Milwaukee no céu. Jogaram seu jogo. Contudo, me pergunto:
Quando o Bucks voltará a jogar o seu? Sabemos que são 82 jogos, mas já foram NOVE. Foram nove jogos e somaram CINCO derrotas.
Resumo – Enceramento:
“A minha inconstância é tão constante que acabou se transformando numa grande constância.” O poeta brasileiro Jaak Bosmans sabia que esse ponto na sua personalidade era irremediável. Pode faltar qualidade, mas não vontade, agressividade e um time bem treinado taticamente. Podem faltar atletas de alto nível, mas uma boa rotação é o mínimo Budholzer. Várias partidas com ataque travado e um time que é inconstante na defesa. Cinco derrotas… Temos remédios para tantos remendos?