Que alguns assuntos específicos são tratados com maior relevância na sociedade estadunidense e outros continuam com pouca ou nenhuma atenção, grande parte das pessoas já sabem. O problema é quando um dos esportes mais populares do país (e talvez do mundo) provoca discussões desnecessárias por conta do nome de um dos times mais populares, e esses debates envolvem muito além das quatro linhas.
A questão, neste caso, se trata do confronto causado por um nome, mais exatamente o do Washington Redskins, time da capital ianque, existente há mais de 80 anos, considerado como tradicional e popular, com dois títulos da era pré-Super Bowl conquistados (1937 e 1942) e outros três após a junção entre AFL e NFL (1982, 1987 e 1991).
Desde a época da adoção da alcunha e do símbolo, um índio com cocar na cabeça, na década de 1940, diversos setores da sociedade promovem debates sobre a legalidade do uso de ícones que remetam aos habitantes nativos que tiveram tribos quase extintas e sofreram imensamente ao longo da história por meio do preconceito e outras formas conhecidas.

Breve história
Para contextualizar melhor a situação, vamos voltar no tempo, para a década de 1930, época de fundação do então Boston Braves, em Massachusetts. Em 1933, o time teve o nome alterado para Boston Redskins pelo então dono e fundador, George Preston Marshall para, segundo ele, “manter uma ligação com os laços nativos do nome antigo”, ao contrário do que especulavam na época de ser uma homenagem a algum membro da equipe que tivesse origens indígenas.
Em 1937, os então Redskins se mudaram para Washington, o que impulsionou uma mudança estrutural em alguns aspectos extracampo do futebol americano desde então, com a inserção de bandas marciais, gritos de guerra, entre outros.
A segregação era viva na cidade em vários aspectos. Membros da política eram predominantemente brancos, principalmente senadores e deputados, e as escolas públicas eram separadas para pessoas de pele clara e escura. Além disso, Marshall era irredutível em respeito a agregar jogadores negros ao time, e admitia essa opinião sempre que podia, com a justificativa de que se tratava de atletas de cor, e fazia de tudo para não ter que selecionar jogar alguém do tipo, procurando por possíveis escolhidos em universidades de predominância branca.
Apesar de ser uma equipe já relevante naquela época, o time da capital demonstrava estar dividido muito por conta do posicionamento polêmico de Marshall, que, no draft de 1961, após muita pressão da liga e do governo federal, incluindo ameaças de boicote ao estádio, que pertencia à cidade e redução de incentivos fiscais, tiveram que ceder e escolher um jogador das minorias. O jogador selecionado foi o running back de Syracuse Ernie Davis, que se recusou a vestir o uniforme grená e foi trocado com o Cleveland Browns. “Eu não jogarei para esse filho da p…”, respondeu Davis ao ser perguntado por qual motivo não quis defender o Redskins, indicando como culpado o dono da equipe, conhecido há muito tempo por ter posicionamento racista.

A integração de jogadores não-brancos ocorreria somente no ano seguinte, com a chegada do wide receiver Bobby Mitchell, o guard John Nisby e o fullback Ron Hatcher, sendo os dois primeiros adquiridos após trocas com outros times e o terceiro obtido na oitava rodada do draft. Os Skins se tornaram o último time da NFL a ter um jogador negro na equipe.
Mitchell ressaltou a situação estranha que viveu no primeiro jogo em Washington, na vitória de 24 a 14 contra o então St. Louis Cardinals, atualmente em Arizona. “Eu estava jogando para um grupo de pessoas que eu não sabia se me queriam, então eu estava confuso”, lembra o ex-recebedor.
A face racista do time sofreu mudanças desde então, com a vinda de mais jogadores negros e, com isso, a cidade também abraçou a causa, levando em conta a época turbulenta vivida no país com a luta de Martin Luther King contra a segregação de cores.
Controvérsia com o nome e o logo.

Pessoas, tribos e organizações nativas da terra do Tio Sam questionam o uso de nomes e imagens que remetam a eles por décadas. Por volta dos anos 1940, o Congresso Nacional dos Índios Americanos (CNIA) criou uma campanha para eliminar o estereótipo negativo dos nativos na mídia e, com o passar do tempo, decidiram focar nos nomes e mascotes presentes nos esportes.
Em junho de 2014, o Comitê de Julgamento de Marcas votou pelo cancelamento de seis registros em nome do time por considerar Redskins como uma ofensa à “parcela substancial dos nativos”. A equipe apelou no caso em agosto do mesmo ano com o argumento de que o comitê ignorou leis federais e evidências presentes no caso, porém o veredicto foi confirmado a favor do comitê em julho de 2015.
Para dar um posicionamento aos fãs e a comunidade em geral sobre o impasse, o dono do time, Dan Snyder, escreveu uma carta aberta publicada no jornal The Washington Post, em outubro de 2013, manifestando a associação do nome com a criação do time, sendo esta a forma de homenagear os índios do país em geral e, especialmente os quatro jogadores e o técnico de ascendência indígena que integravam a equipe naquela época. Como argumento, também citou uma pesquisa pública de opinião na qual 90% dos que se identificaram como nativos não se incomodavam com o nome. A mesma pesquisa foi refeita em 2016 com 504 entrevistados, que afirmaram “não se incomodar” com o nome do time.
A diretora executiva do CNIA, Jacqueline Pata, declarou que “a pesquisa não reconhece os efeitos psicológicos que os nomes racistas e o imaginário dos outros possuem sobre os índios e nativos do Alaska. A pesquisa não faz o uso das imagens e nomes ser correta”. Os Redskins, porém, preferem usar as pesquisas, mesmo em caráter duvidoso e com poucos entrevistados, como referencial para manter o nome, a ponto de publicá-las no site. “Essa análise, com a realizada pelo Instituto Annenberg (órgão de referência em triagem de dados no país), demonstram apoio contínuo, profundo e disseminado à manutenção do nome.”, justificaram.

A tribo Oneida, uma das mais populares e de território mais extenso dos Estados Unidos, confia em uma mudança como ponto de partida para outras. “Acreditamos que mais cidadãos apoiariam a mudança do nome do time de Washington se eles entendessem o contexto completo do que os Oneidas e os outros de nós consideramos uma ofensa”.
Sobre o apelido do time, redskin, (em tradução livre pele vermelha ou cabeça vermelha) pode ser considerado como forma pejorativa de falar sobre o índio nos Estados Unidos, de modo que, em alguns dicionários americanos, a palavra é assimilada a algo “usualmente ofensivo”, “insulto”, “tabu” e “desrespeitoso”. A controvérsia etimológica é ainda maior por considerar, por exemplo, a palavra nigger, que é vista como extremamente vulgar e racista e, por isso, não é usada em nenhum sentido, o que seria o ponto de discordância das pesquisas nas quais a equipe de Maryland se apoia.
Historicamente, na época da escravidão e até mesmo depois, os índios eram citados em documentos e notícias como redskins, como em uma notícia publicada por um jornal de Kansas, datado de outubro de 1885, retrata a “caçada por cabeças vermelhas, com o objetivo de obter os escalpos deles”.
Em entrevista após a decisão sobre o uso da marca em 2014, Amanda Blackhorse, organizadora da petição que desencadeou no processo, classificou o nome como “algo que lembra o tempo que a população nativa estava em processo de extermínio e haviam assassinos contratados para matar os índios e, para mostrar que eles realmente executaram o serviço, eram obrigados a levar o escalpo das vítimas para os que contratavam eles”.
Outro exemplo provocativo, de acordo com os grupos contra o nome, é justamente a representação através de estereótipos mal construídos sobre a cultura indígena, sem a tentativa de entender de verdade a cultura, história e valores que possuem, enxergando isso como pessoas “brincando de índio”, tendo em vista o mascote não-oficial, Chief Zee, um afro-americano que apoiava o time desde 1978 até o falecimento, ocorrido neste ano. Ele costumava usar roupas semelhantes às de um cacique, com colares, cocar e outros adereços.

E se um time tradicional do Brasil se chamasse, por exemplo, Mulatos Futebol Clube, você apoiaria do mesmo jeito?
Sou torcedor do Pardo Futebol Clube cara pálida.
– Sou vira-lata
-Sou vira-lata
-Sou vira-lata
– Tenho um pé na caravela, na oca e na senzala.
– Graças a Jesus, Tupã e Orixás.
Caramba!!!
Eu nem fazia ideia que o escudo do time tinha por trás toda essa polêmica, parabéns!
O texto ficou muito bom, entendo perfeitamente os nativos serem contra o nome e logo do time.
Será que existe algo parecido com o Chicago Blackhawks? Pelo que vi, o escudo também é de uma silhueta de um nativo.
Sou afrodescendente e se tivesse um time nome Brasil chamado “Mulatos”, acharia uma boa. Até porque mulato nem xingamento é, como também não é “redskins”. Ah, existe um clube muito tradicional e popular, como também campeão brasileiro, chamado Guarani, seu mascote é um indígena, mas os fundadores do clube eram brancos com ancestralidade italiana. Foram racistas? Tem que mudar o nome do Guarani? Ah, no Paraguai também existe um clube bem popular chamado Guaraní, e o Paraguai tem uma relação até mais forte que o Brasil com a tribo.
Olha que interessante o debate. Mas tem uma coisa é o mascote da Ponte Preta, time de Campinas-SP é uma macaca exatamente por ter aceito negros antes de todos os outros times. Hoje, além da mascote, o dançarino que usa a fantasia é negro e se orgulha disso.
Temos que separar o que é preconceito do que é uma interpretação. E o que é um problema social do problema de auto afirmação da própria pessoa, que se ofende, mesmo que a ofende a tudo e todos, mesmo que seja hoje uma homenagem. No passado era uma ofensa e hoje pode ser uma homenagem? Talvez….
E no caso do Cleveland Indians e do Kansas City Cheafs, existe conotação racista??????