VocĂȘ ergue a cabeça e pergunta “Onde estĂĄ isso?”, alguĂ©m aponta para vocĂȘ e diz: âĂ deleâ. DaĂ vocĂȘ pergunta âo que Ă© meu?â, e outra pessoa chega e pergunta âOnde estĂĄ o quĂȘ?â, entĂŁo vocĂȘ percebe que estava sozinho o tempo todo. Essa Ă© a definição da temporada do Detroit Tigers, vocĂȘ sabe que alguma coisa estĂĄ acontecendo, mas nĂŁo sabe o que Ă©.
A expectativa é a mãe da decepção.
No inĂcio da temporada, a divisĂŁo central da liga americana era uma grande incĂłgnita, sabĂamos que o Chicago White Sox iria liderar a divisĂŁo com um pĂ© nas costas (assunto para outro texto) e sĂł, o resto era muito sombrio, quase que um sorteio pra ver quem seriam os perdedores times decorrentes. Sejamos justos, ninguĂ©m esperava que o Detroit Tigers iria brigar por playoffs ou coisa parecida, mas tambĂ©m esperĂĄvamos um time pelo menos decente. Eu colocava o time como o terceiro colocado da divisĂŁo, atrĂĄs do Minnessota Twins e do prĂłprio White Sox e muitos outros colocavam o time como a segunda força da divisĂŁo, mas por quĂȘ? O que estava acontecendo em Detroit?
Na offseason, o time adicionou o arremessador canhoto Eduardo Rodriguez, vindo do Boston Red Sox e Javier BĂĄez, shortstop vindo do New York Mets, ambos contratos carĂssimos da free agency. AlĂ©m disso, some o fato do time ter subido a sua futura grande estrela, o primeira-base Spencer Torkenson, e as declaraçÔes da diretoria de que o rebuild enfim acabava e era a hora de competir. Havia expectativas justas, havia material humano para no mĂnimo terminar 50% ou muito perto disso. Nada disso aconteceu, atĂ© porque se tivesse acontecido eu nĂŁo estaria escrevendo esse texto.
Leprosos e vigaristas
Olhando para as estatĂsticas do time, fica evidente o grande motivo: o ataque – quer dizer, a inexistĂȘncia dele. Vamos fazer um pequeno exercĂcio, qual o pior ataque da liga em mĂ©dia de chegada em base? Se vocĂȘ disse Oakland Athletics vocĂȘ estĂĄ certo, mas qual o segundo? Pittsburgh Pirates? Cincinnati Reds? Kansas City Royals? NĂŁo, Detroit Tigers, com .283, enquanto a mĂ©dia da liga Ă© de .312, e isso Ă© sĂł a ponta do iceberg, pois quando olhamos para estatĂsticas avançadas, fica ainda pior a situação. Vejamos slugging (total de bases dividido por tentativas no bastĂŁo), o time Ă© o pior com .331; jĂĄ em OPS (OBP + SLG) o time Ă© o segundo pior, com .614; total bases? 810, o pior da liga. No beisebol Ă© assim, nĂŁo adianta ser querido por professores e advogados, ou ter lido todos os livros de F. Scott Fitzgerald, se nĂŁo anotar corridas, nĂŁo vai ganhar os jogos, aliĂĄs, nisso o time tambĂ©m Ă© o pior da liga, com 223, enquanto a mĂ©dia da liga Ă© 334, algo estĂĄ acontecendo e nĂŁo sabemos o que Ă©.
Vamos começar a fazer as perguntas certas, o que Ă© o Detroit Tigers? AhĂĄ, esse Ă© o ponto. O Detroit Tigers, como acabamos de ver, Ă© um time muito ruim no bastĂŁo, mas como era nos anos anteriores? No ano passado o time foi bottom 10 em todas as estatĂsticas que citamos anteriormente, tambĂ©m em 2020, 2019, e 2018, ou seja, isso Ă© uma construção, uma maldita construção de ataques insalubres, modorrentos, fracos, um ataque fraco para um time fraco.
Eu costumo analisar jogador a jogador para saber como vai o time, mas no caso do Tigers, isso Ă© inĂștil, todos sĂŁo ruins exceto Miguel Cabrera. Ia ser redundante ficar citando nomes e mais nomes pra no final falar que ele Ă© ruim ou estĂĄ tendo uma temporada ruim.
Quanto a rotação, nĂŁo vou falar nada, coitados, precisam carregas esses pesos mortos nas costas. Muitos torcedores do Tigers nos Estados Unidos dizem, os arremessadores mantĂ©m o time no jogo, mas eles nĂŁo tem ajuda nenhuma do ataque, que um exemplo? Quando o ataque marca mais de duas corridas (pelo amor de Deus, duas corridas, isso Ă© o bĂĄsico do bĂĄsico) o time tem 39 vitĂłrias e 27 derrotas, isso Ă© 60% de vitĂłrias, apenas 4 times na liga tem isso: Houston Astros; LA Dodgers; NY Yankees; NY Mets, que sĂŁo os franco favoritos para o tĂtulo. Em quantos jogos o time anotou menos de 3 corridas? 36, a metade da temporada.
Abre aspas agora para a minha opiniĂŁo, Ă© impossĂvel um time de Major League Baseball ser tĂŁo ruim por tanto tempo, ainda mais esse time tendo Miguel Cabrera. Todos os outros times que sĂŁo ruins no ataque sĂŁo times vendedores: Aâs, Pirates, Reds, Nats, Dbacks, mas o Tigers Ă© comprador, um time que quer competir e nĂŁo uma reconstrução. Como pode um time ser tĂŁo ruim no ataque mas ser bom no arremesso? Ou o treinador de rebatida Ă© pĂ©ssimo e precisa ser demitido pra ontem, ou Ă© sabotagem dos jogadores. O fato Ă©, esse time nĂŁo sabe rebater e nĂłs nĂŁo sabemos o que estĂĄ acontecendo, nem o porque, nem o como, nem o quando melhora, nem o de quem Ă© a culpa, sĂł sabemos de que nada sabemos.
HĂĄ expectativa de melhora do ataque? Se vocĂȘ quer se iludir, vĂĄ em frente, eu nĂŁo vi nada que me faça confiar nesse time, o Detroit Tigers Ă© uma versĂŁo malfeita do Milwaukee Brewers.