NFL100 – 1958 NFL Championship Game

Faltam 7 dias para a 100ª temporada da NFL e hoje relembramos o jogo mais importante da história da liga: o dia em que pela primeira vez na história um jogo profissional de futebol americano foi televisionado nos Estados Unidos! Acesse fumblenanet.com.br/nfl100 para conferir outras histórias épicas!

 

O dia 28 de dezembro de 1958 marcou o início da história do futebol americano profissional como um dos esportes mais populares nos Estados Unidos. Em sua 26ª edição, o NFL Championship Game mostrou ao público americano o que é, para muitos, considerado a “melhor partida já jogada” entre o Baltimore Colts e New York Giants.

O principal fator que tornou o jogo como um divisor de águas no esporte foi a transmissão pela rede de TV americana NBC. Até então nenhuma outra partida havia sido televisionada em rede nacional e na ocasião cerca de 45 milhões de expectadores viram o emocionante jogo entre Colts e Giants. O número era expressivo para a época, só não sendo ainda maior pois não houve transmissão para a cidade de Nova York, uma vez que o jogo foi realizado no Yankee Stadium, no Bronx. Enquanto milhões assistiam ao jogo do conforto de casa o estádio recebia um público de mais de 60 mil pessoas. Os torcedores presenciaram uma histórica decisão em “morte súbita”, o primeiro campeonato decidido no overtime.

Foto: NY Times.

As temporadas dos times

Ambas equipes haviam finalizado a temporada com nove vitórias e três derrotas, sendo a segunda temporada que a equipe de Baltimore conseguiu um recorde positivo desde sua criação em 1953. Na semana 7 da temporada regular as equipes já haviam se enfrentado, com uma vitória de New York por 24-21. Na oportunidade os Colts estavam sem o quarterback titular, Johnny Unitas. O lendário QB da franquia sofreu uma lesão durante a temporada e retornou aos campos no Western Conference Championship, virando um jogo em que o San Francisco 49ers, liderados por de Y. A. Tittle, ganhavam por 27-7 no intervalo. A equipe de Baltimore conseguiu uma virada incrível no segundo tempo de jogo com 4 touchdowns.

O time foi o primeiro da liga em touchdowns e jardas totais, enquanto do outro lado da bola a defesa era a melhor contra o jogo corrido (em jardas cedidas) e a que mais causava turnovers ao adversário. O time contava com um total de seis jogadores do 1st Team All-Pro: o QB Johnny Unitas, o RB Lenny Moore, o WR Reymond Berry, o LT Jim Parker, o DE Gino Marchetti e o DT Gene Lipscomb. Todos se juntaram ao FB Alan Ameche e o DE Don Joyce também no Pro Bowl.

Enquanto isso, os Giants não ostentavam números tão expressivos no time ofensivo. Eram apenas o 9º melhor time em pontos marcados e o 10º melhor em jardas conquistadas em um ataque comandado pelo grande Vince Lombardi. Já do lado defensivo, comandado por Tom Landry, o time foi o que menos cedeu pontos aos adversário. Assim como os Colts, os Giants tinham um time com muitos jogadores dignos de seleção ao 1st Team All-Pro: o LT Rosey Brown, o C Ray Wietecha, o DE Andy Robustelli, o MLB Sam Huff e o S Jimmy Patton. Com exceção a Robustelli, estes jogadores ainda se juntaram ao HB Frank Gillford, o HB Alex Webster e do TE Bob Schnelker no Pro Bowl daquela temporada.

 

O jogo

Já no primeiro drive de jogo o linebacker Sam Huff forçou um fumble ao sackar Unitas, e a bola foi recuperada pela defesa. Na jogada seguinte os Colts tomaram a bola para si novamente, com um fumble forçado e recuperado por Gino Marchetti, mostrando que o jogo prometia emoção do início ao fim. No primeiro quarto de jogo apenas 3 pontos foram anotados no placar com um field goal de 36 jardas convertido por Pat Summerall.

No segundo quarto o defensive end Ray Krouse dos Colts recuperou um fumble na linha de 2 jardas do ataque. Na jogada seguinte o fullback Alan “The Iron horse” Ameche correu para um touchdown, colocando sua equipe na liderança do placar. Novamente com a posse de bola, Johnny Unitas lançou a bola para Raymond Berry marcar um touchdown de 15 jardas, ampliando a vantagem e levando o jogo em 14-3 para o intervalo. Dois fumbles aconteceram levando a virada, sendo ambos forçados por Milt Davis, que jogou com 2 fraturas no pé direito.

De acordo com Tex Maule, jornalista da Sports Illustrated na época, os Colts ficaram o primeiro tempo de jogo observando os pequenos detalhes, as falhas no sistema dos Giants sob os olhos de Unitas. Enquanto isso, diferente dos jogos contra outros oponentes, a defesa dos Giants não chegava até Unitas. Jim Parker, OT dos Colts, fez excelente trabalho contra o destruidor Andy Robustelli. Os Colts precisaram de toda a criatividade possível e precisão para conseguir passar pela defesa da capital dos Estados Unidos. Enquanto os Giants tentavam a todo custo mudar a forma de marcação na defesa e muitas vezes acabavam sendo dominados. No intervalo os Giants pareciam rendidos aos Colts, mas no segundo tempo as coisas viriam a mudar completamente.

Imagem digitalizada do playbook de Weeb Ewbank para o jogo.

Diferente do que aconteceu durante o primeiro tempo, a defesa dos Giants começou a aparecer em campo e deu condições ao ataque de também ter um bom desempenho. No terceiro quarto os Giants tiveram um drive espetacular, avançando 95 jardas em apenas quatro jogadas. No entanto o resultado foi apenas um field goal, diminuindo a diferença no placar para apenas quatro pontos. O drive foi marcado por um passe de 86 jardas do quarterback Charlie Conerly e um fumble recuperado pelo HB dos Giants, Alex Webster, na jogada seguinte.

Para tentar algo que surpreendesse os Colts, foi a vez dos Giants usa a sua criatividade, especialmente mudando os alvos no ataque. No último quarto de jogo os Giants tomaram a frente com um touchdown do tight end Bob Schnelker. Para tornar a partida ainda mais complicada para o time de Baltimore, Gino Marchetti saiu do campo de jogo com um tornozelo quebrado. Os Colts pareciam derrotados, sem esperanças para retomar a frente do placar ou empatar. Mas foi a vez de um jogador lendário e um incrível ataque tomar a atenção dos espectadores. Partindo da linha de 14 jardas de seu campo de defesa, o quarterback Johnny Unitas liderou a equipe ao empate em um dos drives mais famosos da história do football, um 2-minute drill.

Foto: Sports Illustrated

Naquela campanha outro jogador que brilhou foi Raymond Berry: recebeu três passes sob marcação dupla em cada um deles. Não havia um alvo mais seguro para Unitas naquele jogo, e ele sabia disso: Berry teve 12 passes recebidos para 178 jardas. Com sete segundo no relógio Steve Myhra, o kicker dos Colts, convertou um field goal empatando a partida e deixando sem reação jogadores, técnicos e torcida, que veriam o primeiro jogo com prorrogação e morte súbita.

 

Morte súbita

Após um breve descanso as equipes retomaram ao jogo começando por decidir com quem a bola ficaria inicialmente. Segundo a regra, qualquer pontuação feita por um time resultaria na vitória, sendo ela um field goal, touchdown ou safety. Os Giants ganharam o sorteio na moeda (coin toss) e iniciaram o primeiro drive da prorrogação, mas não tiveram sucesso ao tentar pontuar. A defesa dos Colts forçou um three-and-out mesmo sem seu principal jogador, que havia saído de campo durante o tempo normal, e possibilitou que o ataque saísse da linha de 20 jardas do seu campo defensivo.

Foto: Sports Illustrated

Após ver os Giants falhando em pontuar o jogo estava nas mãos dos Colts e o time sabia que todo cuidado naquele momento era pouco. Alternando os tipos de jogada e dificultando ao máximo a vida dos Giants, os Colts conseguiram andar em campo. Ray Berry e Alan Ameche foram as principais armas usadas naquele drive, em um dia onde ambos estavam inspirados. Ao fim de um drive de 80 jardas os Colts marcaram o touchdown que deu o primeiro título da NFL ao time de Baltimore, com Ameche.

Na edição de 5 de janeiro de 1959 da Sports Illustrated, Tex Maule, ex-jogador de futebol americano e na época escritor da revista, definia os Colts como “famintos”, especialmente no segundo tempo de jogo e prorrogação. Destacou também o time ofensivo dos Colts muito confortável em atacar pelo ar e por terra. O Baltimore Colts usou as mais “variadas jogadas baseados num talento impressionante”. Unitas comandava o ataque, com armas letais e um protetor intransponível, Jim Parker. Nem Andy Robustelli e Dick Modzelewski foram capazes de impedir o show do quarterback de Baltimore.

Berry, hoje homenageado pelos Colts como um dos maiores jogadores a vestir a camisa do time, disse em entrevista ao fim do jogo: “[essa partida] é a melhor coisa que já aconteceu”. Não à toa, mais de 30 mil fãs esperavam ansiosamente pela chegada do time à Baltimore para comemorar com seus heróis. Dentro e fora de campo o jogo de fato foi uma das melhores coisas que já aconteceram, seja pela ineditismo de uma prorrogação, seja pelo marco histórico de um jogo de campeonato televisionado.

 

Recordes e Hall of Famers

O jogo foi marcado por lesões e fumbles, mas também por um recorde que perdurou por 55 anos. O wide receiver Raymond Berry anotou 12 recepções (178 jardas e 1 touchdown). O recorde foi quebrado apenas no Super Bowl XLVIII pelo wide receiver Demaryius Thomas, do Denver Broncos. O jogador recebeu a bola 13 vezes na ocasião, ainda que tenha perdido o jogo.

Dos jogadores e técnicos envolvidos na partida 17 são membros do Pro Football Hall of Fame. Dentre eles, 7 eram integrantes dos Colts: Raymond Berry, Art Donovan, Gino Marchetti, Lenny Moore, Jim Parker, Johnny Unitas e Weeb Ewbank. Já do lado dos Giants podemos destacar o então coordenador ofensivo, Vince Lombardi, que viria a conquistar 2 títulos de campeão do Super Bowl com o Green Bay Packers (Super Bowl I e II). Além dele também temos: Rosey Brown, Frank Gifford, Sam Huff, Don Maynard, Andy Robustelli, Emlen Tunnell, Tom Landry, Tim Mara e Wellington Mara.

 

Impacto da TV da popularidade do jogo

Popularmente é creditado à esta partida o crescimento do futebol americano profissional no país. Chris Schenkel, em documentário da ESPN SportsCentury de 2011, faz questão de destacar: “Este jogo foi o jogo que mudou o futebol profissional para sempre”. Enquanto isso, o kicker dos Giants no jogo, Pat Summerall disse também que “[o jogo] sequestrou a imaginação de todos no país”, exemplificando como o jogo teve importante papel para difundir o futebol americano profissional nos Estados Unidos.

Foto: Google Books

Em seu livro intitulado “The Glory Game: how the 1958 NFL Championship changed football forever”, Frank Gifford faz questão de ressaltar que o jogo não foi “o melhor” já jogado. Mas a forma como o jogo acabou, sendo o primeiro decidido na prorrogação, fez com que o jogo se tornasse o melhor de todos. Gino Marchetti também não concorda com que o jogo seja o maior, mas sim o mais importante. O ex-jogador também ressalta o local onde aconteceu o jogo, Nova York, e que tudo que envolve a cidade toma proporções maiores do que realmente deveriam. ¹

Alguns anos após o jogo histórico, para as temporadas de 1964 e 1965 a emissora de TV americana CBS fechou um contrato de US$ 28,2 milhões de dólares para transmitir os jogos da NFL. A partir de então os times iriam compartilhar o valor pago pela emissora, que teria o direito de transmitir cada um dos sete jogos que aconteciam aos domingos. Na época, existia uma “zona escura”, que cobria um raio de 75 kms do local onde os jogos ocorriam, onde não era possível ver os jogos na TV. A popularidade do esporte cresceu tanto que torcedores fanáticos viajavam para sair dessas zonas para poder assistir os jogos em bares, hotéis e casa de amigos e parentes. Com a AFL também despertando novos olhares a NBC decidiu pagar US$ 36 milhões por um contrato de 5 anos televisionando os jogos da liga. Ao longo dos anos a TV foi entrando cada vez mais no ramo do esporte, sendo que hoje são pagos milhões de dólares por alguns segundos de propaganda durante o Super Bowl, jogo mais importante da temporada para os americanos.

 

¹ – 100 things Colts fans should know & do before they die, Phillip B. Wilson, Triumph Books – 2013.

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