Conhecendo Justin Houston

Ano novo na NFL, jogadores novos e um março maluco na corrida por free agents. Entretanto, nem tão maluco assim para o Indianapolis Colts de Chris Ballard, especialmente após o Draft. Ainda que o time tivesse o maior valor disponível no cap space para ser gasto, não vimos o time fazer splashes logo no início do ano novo da NFL. Buscando auxílio em uma das posições mais fracas do time na temporada passada, o time foi atrás de Justin Houston para aumentar a pressão no ataque adversário. Hoje falaremos do segundo reforço para a temporada, desde a sua apresentação ao futebol americano até seu desempenho no Kansas City Chiefs.

 

HIGH SCHOOL

Foto: rivals.com

Natural de Statesboro, na Georgia, Justin Houston jogou futebol americano pela Statesboro High School, em sua cidade natal. Pela escola jogou como weakside defensive end e se destacou a ponto de chamar a atenção de alguns programas de futebol universitário. Durante este período, Houston pode jogar em três finais do Campeonato Estadual da modalidade, entre 2003 e 2005. Houston e sua escola saíram vencedores no campeonato de 2005 contra Northside High School. Quanto às suas conquistas individuais, conquistou duas vezes a seleção para o All-Region e uma menção honrosa para o All-State.

Suas avaliações de scouting em sites renomados variaram entre prospecto três estrelas e quatro estrelas. Pelo Rivals foi eleito o 11º jogador da posição com nota 5,8 e quatro estrelas. Enquanto isso, pela ESPN obteve nota 78, sendo o prospecto número 28 em sua posição no geral. Enquanto isso, pelo 247 Sports, foi avaliado apenas como um prospecto três estrelas, com nota 0,8875 e o 14º melhor jogador da posição. Dentre as diversas propostas que recebeu, escolheu aceitar a proposta da Universidede de Georgia, ainda no início de 2006, seu último ano no high school. Jon Fabris foi o responsável por levá-lo a universidade e recusar propostas de Florida, Georgia Tech, Mississippi, Oklahoma State e South Carolina.

 

COLLEGE: GEORGIA

Foto: Georgia Bulldogs

Após receber e aceitar o convite da Universidade da Georgia, Justin atuou no programa de futebol por três anos, entre 2008 e 2010. Em seu ano de freshman teve bons números para quem havia acabado de chegar ao programa. Teve snaps em 13 jogos computando 19 tackles (10 solo), 4,5 tackles para perda de jardas e 2,5 sacks, além de 2 passes desviados. Em 2009 jogou menos jogos que em seu primeiro ano, com 10 partidas, mas seus números evoluíram. Somou 39 tackles (22 solo), 15 para perda de jardas e 7,5 sacks, sendo três vezes mais que na temporada anterior, o que é essencial para um jogador de sua posição. Estas marcas foram o suficiente para que fosse selecionado para o segundo time All-SEC na temporada de sophomore.

Em seu último ano no College, como junior, mais evolução e números expressivos. Em 13 jogos foram 67 tackles (40 solo), 18,5 para perda de jardas e 10 sacks (líder entre os LBs da SEC), além de uma interceptação. O ótimo desempenho o levou à seleção para o primeiro time All-SEC e All-American. Com grandes chances de ser selecionado no Draft, Houston anunciou que não jogaria o ano de senior e se declarou para o Draft da NFL de 2011¹. Desde 2005, quando são computados os dados pela Sports Reference, Justin conseguiu ser o 17º jogador com o maior número de tackles para perda de jardas e o 18º em sacks da SEC. É importante ressaltar que durante os seus primeiros anos de College, jogou como defensive end de 4-3, transicionando para outside linebacker de 3-4 em seu último ano, sob o comando do coordenador defensivo Todd Grantham.

Mas nem tudo foram flores na época de College. Em seu primeiro ano no time, 2009, foi suspenso por dois jogos por violar regras internas do time. Entretanto em 2010 mostrou-se um jogador extremamente dedicado e comprometido com o time. Se tornou capitão e foi considerado um excelente líder “por exemplo”, além de ser extremamente vocal com os companheiros de defesa. Mas a principal controvérsia quanto a Justin Houston ainda estaria por vir, isso no processo pré-Draft.

 

AVALIAÇÕES PRÉ-DRAFT

Foto: nfl.com

Os analistas da NFL e da CBS Sports consideravam Houston um jogador um pouco baixo para ser usado como defensive end na formação 4-3, entretanto poderia se sair bem como outside linebacker em 3-4, tendo experiência em ambas formações em Georgia. Mostrava habilidades que o tornavam versátil e com grande valor para os times da NFL, especialmente pelo conhecimento de mais de uma formação defensiva. Quanto às suas características, acreditava-se que podem ser um jogador de final de primeiro round ou início de segundo round. Para alguns analistas tinha as valências atléticas necessárias para ser usado na cobertura de passe, mas poderia sofrer em marcações homem-a-homem e provavelmente seria um jogador predominantemente usado como pass rusher.

Apresentava bom reconhecimento da contagem de snaps do adversário, o que fazia com que seus instintos fossem ressaltados no jogo. Conseguia fazer melhor o trabalho de chegar no QB jogando por fora da linha ofensiva, mas precisava melhorar seu uso das mãos para poder produzir em alto nível. Tinha a força necessária para chegar pronto a NFL, mas não era tão capaz de contribuir contra o jogo corrido. Quanto aos intangibles (características não mensuráveis) se mostrava capacidade de ser um jogador sólido e um líder em campo.

No NFL Scouting Combine o desempenho de Houston foi sensacional. Realizou todos os exercícios para a posição, tendo as melhores marcas no bench press (30 repetições), vertical jump (36,5 polegadas) e broad jump (125 polegadas). Seus resultados chamaram atenção e foi entrevistado por sete times da NFL. A avaliação de seus testes físicos foi muito impressionante, recebendo nota de 8,18 pela NFL que o indicava com habilidades físicas compatíveis com as de um jogador All-Pro por muitos anos na Liga. Foi avaliado como o melhor linebacker da classe pela Sports Illustrated e pelo analista Gil Brandt. O analista destacou, como esperando, seu tamanho para e o bom atleticismo para ‘dobrar a esquina’, além de bom uso do bull rush quando necessário.

Eu sinto que fui muito honesto com eles [sobre o teste positivo]. Apenas disse a eles que foi um erro que eu cometi. Estou deixando isso para trás de mim. Eu farei o que eles querem que eu faça. Eu acho que eles confiam em mim. Eles arriscaram e vou deixá-los orgulhosos por ter uma chance.

Apesar de um desempenho acima da média no Combine, o evento acabou por ser um problema para Houston, que foi testado positivo para o uso de maconha. Em entrevista para Seth Emerson do Columbus Legder-Enquirer, Justin Houston disse que discutiu a situação com seu agente e não estava surpreso por ter caído no Draft, além de ciente que ele mesmo se colocou nessa posição por suas “decisões pobres”. O jogador visitou os Chiefs antes do Draft e fez questão de destacar o teor de sua conversa com o time.

Após a visita e conversas privadas com os Chiefs, que realmente gostavam do jogador, o telefone de Houston tocou já no segundo dia de Draft. O Kansas City Chiefs usou a 70ª escolha selecionar o jogador, sendo o nono linebacker a ser escolhido no Draft de 2011.

 

CARREIRA NA NFL

Foto: Leon Halip/Getty Images

Quando chegou os Chiefs, Justin Houston encontrou alguns veteranos brigando por posição: Andy Studebaker, Tamba Hali, Cameron Sheffield. Projetava-se que o jogador seria apenas a terceira opção para a posição, especialmente após extensão de contrato dada a Studebaker e uma temporada anterior sensacional de Tamba Hali. Conseguiu participar de todos os confrontos de temporada regular, tendo iniciado 10 dos 16 jogos dos Chiefs. Sua melhor atuação na temporada veio contra os Bears, com 3,0 sacks, um fumble forçado, sete tackles, um passe desviado e três tackles para perda de jardas, além de mais dois QB hits. Ao final da temporada de calouro conseguiu 5,5 sacks, 56 tackles (46 solo), nove QB hits, quatro passes desviados, um fumble forçado e um recuperado. Ainda que não tenha conseguido a titularidade de imediato, o que era esperado por sua qualidade, o jogador foi visto como o novo playmaker da defesa, podendo então fazer ótima parceria com Hali, que sofreu sem auxílio no pass rush por anos.

Em sua segunda temporada na carreira com os Chiefs, Justin teve o seu desempenho muito melhorado. Começando todos os jogos da temporada regular os números do jogador evoluíram muito, comparados ao primeiro ano, e o jogador se consolidou como uma das âncoras da defesa dos Chiefs. Felizmente, para o jogador, o ano muito ruim dos Chiefs não afetaram seu rendimento e conseguiu os seguintes números: foram 10 sacks e 18 QB hits, provocou um safety, teve 66 tackles (53 solo), 13 tackles para perdas de jardas, uma interceptação e seis passes desviados, além de um fumble recuperado e um forçado.

Na temporada de 2013 o jogador manteve um ótimo desempenho pelos Chiefs, sendo mantido no time junto com Tamba Hali, ainda que a comissão técnica tenha sido mudada. Naquela temporada o time contratou um novo Head Coach, Andy Reid, vindo do Philadelphia Eagles, resultando num desempenho e num recorde muito melhores que os da temporada anterior, terminando a temporada regular com a segunda melhor campanha da AFC West, com 11 vitórias e quatro derrotas. Os números de Houston mantiveram-se bons, entretanto participou de apenas 11 jogos na temporada regular e um nos playoffs, tendo: 11 sacks, 44 tackles (41 solo), 11 tackles para perda de jardas, 15 QB hits, quatro passes desviados, um fumble forçado e dois recuperados.

Foto: chiefs.com

A temporada de 2014 alcançada por Houston foi uma das melhores já vistas por um pass rusher na história da Liga. Apesar dos Chiefs não chegarem aos playoffs naquela temporada o jogador bateu o recorde de sacks numa temporada pela franquia, com 22,0 sacks. Houston teve uma marca apenas 0,5 sack atrás de Michael Strahan, que estabeleceu o recorde histórico da Liga na temporada de 2001. Como reconhecimento ao seu trabalho, Justin foi um dos defensores selecionados para o Pro Bowl da temporada, além de ser eleito para o First-Team All-Pro.

Como reconhecimento ao desempenho e liderança do jogador nos Chiefs, o time renovou o contrato do jogador para a temporada de 2015. A duração do contrato seria de seis anos num valor de US$101 milhões de dólares, com US$52,5 milhões garantidos. Tudo corrida muito bem, até que na semana 12 da temporada Houston sofreu uma lesão por hiperextensão no joelho, sendo necessária uma cirurgia para reparação do ligamento cruzado anterior (ACL). Ainda assim, Houston foi selecionado para seu quarto Pro Bowl consecutivo, conseguindo sete sacks e meio em seus 11 jogos, 13 QB hits, duas interceptações, seis passes desviados e um touchdown defensivo.

Em 2016 Houston começou a temporada na PUP List e não participou de nenhum jogo até a Semana 11, quando enfrentou os Buccaneers. Teve apenas cinco jogos na temporada, computando 21 tackles, quatro sacks e um fumble forçado. A lesão da temporada anterior afetou seu desempenho em duas temporadas distintas, limitando seu número de jogos e consequentemente sua participação na defesa dos Chiefs. Na temporada seguinte, 2017, Houston conseguiu participar de 15 partidas. Seu retorno foi de extrema importância para os Chiefs uma vez que um de seus principais jogadores da defesa, Dee Ford, atuou em pouquíssimas partidas na temporada. Na temporada teve 59 tackles (46 solo), 5 passes desviados e 9,5 sacks.

Na última temporada uma lesão no músculo posterior da coxa o tirou de quatro jogos, mas enquanto esteve em campo teve bons desempenhos. Chegou a um total de 37 tackles (28 solo), 9 sacks, um passe desviado e uma interceptação. Os torcedores dos Colts devem se lembrar bem do AFC Divisional Round, onde Houston jogou muito bem, se sobrepondo a uma ótima linha ofensiva e conseguindo 2 sacks numa de suas grandes atuações da temporada.

 

CHEGANDO EM INDIANAPOLIS

Mesmo vindo de um bom ano os Chiefs resolveram descontinuar o vínculo com o jogador, liberando-o em 10 de março e liberando US$14,1 milhões de espaço no salary cap da franquia. Mesmo com a saída, seu ex-técnico Andy Reed fez questão de ressaltar que Houston “realmente ajudou a ditar o ritmo do time”, acrescentando que apreciava todo o trabalho que ele fez pelos Chiefs, desejando-lhe o melhor para sua carreira.

Foto: colts.com

Conhecedor do trabalho de Justin Houston em Kansas City, Chris Ballard esperou o momento certo durante a Free Agency para abordar o jogador. Houston era possivelmente o melhor jogador da posição disponível no mercado àquela altura. O contrato consistiu em dois anos num valor de US$24 milhões de dólares, com grande parte do cap hit para a temporada de 2019. O jogador, que conseguiu contribuir nas suas últimas temporadas pelos Chiefs, chega para suprir uma necessidade clara dos Colts durante a última temporada. Estatísticas mostram que, durante a carreira, Houston teve 66% de chance de derrubar o QB se colocar as mãos nele. O número é melhor em comparação a jogadores como de Von Miller, Khalil Mack, J.J. Watt e Cameron Wake. Além disso, Houston conseguiu gerar pressão no quarterback adversário em 15,3% dos snaps jogados.

Em sua chegada a sua nova casa, Indianapolis, agora com 30 anos e muito mais experiente, Houston fez questão de destacar que acredita que “ainda tem combustível no tanque” para produzir pelos Colts. Além disso, um dos principais atrativos para a escolha pelo Colts foi o fato de que, segundo Justin, o time lhe permitirá fazer “o que ele mais gosta, que é o pass rush”. O jogador enfrentou os Colts por anos, e mais recentemente teve um bom jogo contra o time nos playoffs, sendo assim também destacou que “conhece bem a instituição e acredita que o time está indo na direção correta, logo, ele gostaria de fazer parte disso”.

A relação entre o General Manager dos Colts, Chris Ballard, e o jogador é antiga e a filosofia para abordar Houston segue o padrão desenvolvido nos últimos dois anos no comando do time. Novamente seguiu-se a premissa de aguardar boas oportunidades de mercado na Free Agency com o desenrolar dos dias e trazer para o vestiário jogadores com a mentalidade necessárias para manter o grupo unido. Muitos dos ex-companheiros de Houston em Kansas City ressaltam o espírito de liderança e o senso coletivo do jogador no vestiário. Ballard, em entrevista afirmou que “ama o jeito que ele [Houston] joga, a atitude e o esforço de Houston em campo”. Ainda destacou que “o pass rush sempre vai ser a pedra angular” do time em Indianapolis.

¹ Números da carreira por temporada incluindo estatísticas alcançadas jogando nos Bowls.


 

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